Pesquisadores estão indo a campo por conta própria
para coletar amostras, resgatar animais e analisar o verdadeiro impacto
ambiental do tsunami de lama que varreu a bacia do Rio Doce.
Centenas
de cientistas brasileiros estão se organizando, voluntariamente, para fazer uma
avaliação independente do impacto ambiental causado pelo rompimento das
barragens de Mariana. Muitos deles se deslocaram para os locais atingidos pelo
desastre e estão coletando dados e amostras para análise, num esforço que
lembra o de médicos independentes ajudando vítimas de um terremoto (ou, neste
caso, um tsunami de lama). Um grupo foi criado no Facebook para organizar os
esforços e uma iniciativa de crowdfunding foi lançada para financiar as análises
e a elaboração do relatório, aqui.
“Considerando que este é um dos
maiores desastres ambientais sofrido pelo Brasil, envolvendo rios e as
populações a sua volta, abrangendo vários municípios, que as posturas das
instituições públicas são vagas e o poder econômico dos envolvidos, é de
extrema importância que exista um relatório independente e isento, que possa
ser utilizado nas ações decorrentes relacionadas aos efeitos do rompimento das
barragens”, diz a proposta de crowdfunding na internet, que visa a arrecadar R$
50 mil. “O relatório final será de domínio público, constituindo-se em
ferramenta para que este desastre não fique impune.”
A iniciativa partiu do biólogo
Dante Pavan, especialista em répteis e anfíbios formado pelo Instituto de
Biociências da USP, e está sendo coordenada por Viviane Schuch, microbióloga e
pesquisadora da Unifesp.
Um
grupo criado no Facebook para compartilhar informações e notícias sobre o
desastre tinha cerca de 1 mil membros hoje de manhã: https://goo.gl/bBdxBs.
Há também um grupo fechado, só para cientistas, que está sendo usado para
organizar os esforço de coleta e avaliação no campo.
“Muitos profissionais estão
neste momento em campo com recursos próprios. Através do Facebook, houve a
organização das equipes, de forma a se otimizar as coletas de amostras de água
e sedimentos. Algumas coletas foram realizadas antes da chegada da lama, e
outras estão sendo feitas agora, após a chegada. Nosso objetivo é conseguir
parcerias com laboratórios para que sejam feitas análises de metais pesados,
poluentes e de metagenômica. Muitos laboratórios de dentro e de fora do Brasil
já demonstraram interesse, até porque existe um claro apelo científico”, disse
ao Estado o
biólogo Alexandre Martensen, que não foi ao local do desastre mas participa da
iniciativa online, da Universidade de Toronto, onde está fazendo seu doutorado.
“Contrastando com a relativa inércia
das empresas envolvidas e também das diferentes instâncias de governo, este
grupo independente rapidamente se mobilizou via rede social e começou uma
impressionante ação, que pode ter um papel fundamental para que saibamos algum
dia os reais impactos deste acidente, bem como possamos recuperar esta bacia”,
completou Martensen, que tem experiência na realização de estudos de impacto
ambiental.
Os relatos daqueles que estão
no campo são de um cenário de destruição generalizada, que deixará impactos de
longo prazo por toda a bacia do Rio Doce.
Muitos rios por onde a onda de lama
passou foram totalmente soterrados ou severamente assoreados, comprometendo a
vida de todo o ecossistema, e os impactos deverão chegar ao ambiente marinho.
Os pesquisadores foram rápidos e conseguiram chegar à foz do Rio Doce antes da
lama, a tempo de coletar amostras de água, areia e outros sedimentos no seu
“estado natural”, que depois servirão de base comparativa para avaliar os
estragos e a contaminação gerados pelo desastre.
Por hertonescobar
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