domingo, 8 de abril de 2018

O coronelismo digital ou o cabresto pós-moderno nos corações e mentes do usuário

Rede social, quem não tem? Só no Facebook temos no Brasil algo em torno de 101 milhões de usuários... É muito poder em mãos de quem sabe usar... Não é verdade?

O detalhe é que pode fazê-lo como e quando quiser ...

Depois de alguns escândalos radicais que podem ter tudo a ver com a eleição do Trump (EUA), até tivemos por aqui algo de gênero promovido pelo carinha de extrema direita local, da MBL, – que tanta gente gosta – no Brasil e sua organização execrável, o ‘dono’ resolveu fazer alguma coisa.

Como estava virando ‘a casa de mãe Joana’ e só depois de ter tomado um puta rombo de, ‘só’, 50 bilhões de dólares nas finanças pessoais, é que resolveu dar um jeito e limitar um pouco os acessos indevidos. O que não quer dizer que não vinham sendo feitos até então de forma mais discreta, digamos assim, e a nossa privacidade já estivesse nas cucuias há muito tempo.

Como saldo visível temos a moda da fake news, que promete para as próximas eleições por aqui...

Confira!
O coronelismo digital
O voto de cabresto e a promessa de cesta básica são coisas do passado. A manipulação das redes atinge o mesmo resultado

Neste mês veio à tona mais um capítulo do uso indevido dos dados pessoais processados diariamente pelo Facebook. O jornal britânico The Guardian revelou que informações de 50 milhões de americanos foram acessadas sem consentimento pela Cambridge Analytica, empresa inglesa de marketing e análise de dados. O período de acesso ocorreu durante a campanha presidencial que elegeu Donald Trump em 2016.

A empresa foi criada por Steve Bannon, nomeado chefe de estratégia de Trump depois da vitória nas urnas. Os dados coletados ilegalmente foram usados no que são chamadas “psyops” (ou operações psicológicas). Em vez de enviar maciçamente uma informação idêntica para os milhões de contatos roubados tentando convencê-los a tomar determinada posição, a Cambridge Analytica distribuía conteúdos personalizados para grupos específicos de eleitores.

A partir das postagens de cada usuário e seus movimentos na rede social, eram formatadas mensagens específicas que incluíam mentiras, boatos, fake news, vídeos apelativos, correntes e outras técnicas. O sistema desenvolvido identificava as suscetibilidades emocionais dos usuários e quais tipos de conteúdo audiovisual seriam capazes de desestabilizar suas opiniões e sentimentos.

Em conversa recente com Fábio Malini, um dos maiores analistas de rede do Brasil, tive a dimensão do que está em jogo com a manipulação de dados. A coleta de informações pessoais pelo Facebook e outras empresas identifica padrões de comportamento e menções nem sequer percebidas pelo próprio usuário. Trata-se de sondar tendências da ordem do inconsciente e incidir sobre elas com propaganda, seja ela de um iPhone, seja de um candidato.

É um padrão sofisticado de manipulação, na medida em que é personalizado, diferente do marketing tradicional. Ao identificar os medos, desejos e expectativas de alguém, por seu comportamento nas redes, o Facebook dá “soluções” sob medida.

O efeito imediato dessa revelação foi a perda de mais de 50 bilhões de dólares de valor de mercado do Facebook e repetidos pedidos de desculpas dos seus executivos. O criador da empresa, Mark Zuckerberg, garantiu que a empresa fará de tudo para garantir a integridade das eleições em diferentes países, Brasil incluído.

O bilionário não citou nosso país apenas porque teremos eleições em 2018. O Brasil lidera o uso de redes sociais na América Latina. No ano passado, estimava-se em 101 milhões o número de brasileiros conectados aos Facebook. Calcula-se também que cada brasileiro navega na internet em média 9 horas e 14 minutos por dia. Somos a terceira nação que mais passa tempo na rede.

A revelação do uso de dados ilegais dos usuários tem profundos desdobramentos políticos para a nação. Especialmente, desde o processo de impeachment de Dilma Rousseff, as redes sociais tornaram-se verdadeiras arenas da luta política. E do uso indiscriminado de mentiras, calúnias e fake news, especialmente por grupos “novos” de direita.

Vivemos a repetição dessa batalha nas redes após a execução covarde da vereadora do PSOL no Rio de Janeiro, Marielle Franco. Uma quantidade imensa de fake news, calúnias e uma série de outros absurdos contra a memória da ativista chegou à população, tanto por meio de agentes públicos (parlamentares, juízes e policiais) quanto por páginas ligadas a esses grupos de direita. Pesquisa do Datafolha revelou que 60% dos cariocas receberam algum tipo de notícia falsa sobre Marielle.

Uma delas, oriunda do Movimento Brasil Livre, foi retirada do ar e logo em seguida seu suposto criador afirmou tratar-se de uma “guerra política” e que eles estavam ganhando. Quando um cidadão admite alimentar calúnias e repassar informações criminosas, o mínimo a fazer é julgá-lo por seus atos e investigar a rede que financia esses grupos de ódio. A polarização e o avanço do conservadorismo não cessarão com medidas judiciais, mas é fundamental que o Poder Judiciário atue diretamente sobre essas redes.

Além disso, mais do que desculpas, o Facebook deveria oferecer transparência, elemento quase ausente nos algoritmos e no uso dos dados pessoais de seus usuários.

Difícil falar em democracia quando o comportamento político passa a ser grosseiramente influenciado por mensagens, feitas sob medida, que respondem a seus anseios e esperanças inconscientes. Estamos na verdade diante de um coronelismo digital. Voto de cabresto e promessa de cesta básica são coisas do passado. A manipulação de redes obtém os mesmos resultados de forma mais sutil e com ares de consentimento. 


Obs. Cuidado com o que ‘diz ou faz’ nas Redes Sociais, notadamente no Facebook, confira aqui.

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