sexta-feira, 8 de abril de 2016

O Congresso virou um sindicato de ladrões onde a ilegalidade parece ter se tornado a tônica das ações na casa

É no mínimo inusitado vermos, vivermos, uma situação assim. Acredita que dentre os deputados responsáveis pelo processo de cassação da Dilma, ou a tal comissão do impeachment, que dentre os 65 deputados que a compõem 31 deles já são indiciados pela Justiça?

É, grosso modo, são delinquentes que tem um peso, um poder real nas decisões da comissão, e, com certeza, o seu eventual voto é uma forma de evitar o pior para si mesmos, já que, se o impeachment não passar eles podem ser condenados pelos crimes a que respondem à Justiça, que pode levá-los à condenação e à perda do mandato, senão à cadeia.

É que o pano de fundo disto tudo – ao tentarem deter a Dilma – é a necessidade urgentíssima de botar panos quentes no tal do Lava-Jato, já que o Moro, pelo visto, está perdendo o controle da coisa por lá, que vai começar a pegar muita gente grossa, que hoje posa de honesta e de estadista, como já vemos a cada dia mais no noticiário, mesmo na própria mídia associada.

É o tal “efeito dominó”.

O detalhe irônico, se não fosse trágico, é que a “ré”, tem a ficha limpa, limpíssima!

Mesmo considerando a tal das pedaladas, que é uma prática administrativa, que se for levada ao pé da letra vai tirar o mandato de uma infinidade de prefeitos e governadores, senão “punir” retroativamente ex-presidentes, já que a tal condenação que justificaria o golpe tenta um efeito assim, pois o hipotético delito teria sido cometido até 2014, logo, no primeiro mandato da presidente, o que é em si mesmo, outra excrescência legal.

Veja, aqui, o que disse o alquimin sobre isso. Pasme! Ele é contra o impeachment de Dilma porque está preocupado com o dia seguinte. O dele.

Mas, mesmo assim, não é um crime como pintam e muito menos algo que justifique um golpe assim. Se é que um golpe seja justificável em si mesmo.

Um dado interessante nisso tudo é que o Congresso finalmente ficou nu. É, ficou nu e mostra, agora, o que, ou quem, de fato compõe aquela “casa do povo”, envolvidos, em grande parte, com os seus próprios umbigos, em se locupletaram com as benesses do poder, que extrapolam, e muito, as fronteiras da casa e as suas funções.
"Vladimir Safatle: Congresso virou sindicato de ladrões
O filósofo Vladimir Safatle afirmou, em entrevista à TV Brasil, que o Congresso Nacional se transformou uma espécie de “sindicato de ladrões”. Para ele, a atual composição do parlamento nacional não tem a menor condição de julgar um pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff.

“O impeachment tem uma perspectiva golpista, O objeto da ação que motivou o pedido foi as pedaladas, o que é uma piada. O Orçamento no Brasil sempre foi uma peça de ficção. Não tem uma pessoa do Executivo que possa continuar no cargo se as pedaladas forem consideradas”, afirmou.

Ele diz que o ritmo de andamento do impeachment é “desesperado” e questiona a capacidade daqueles que estão liderando o processo. “Na comissão do impeachment, são 31 deputados indiciados. Como alguém indiciado pode julgar uma presidente da República? Fora que quem comanda tudo isso é o presidente da Câmara, que o procurador-geral da República classificou como um delinquente”, afirmou.

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VLADIMIR SAFATLE: CONGRESSO GANGSTERIZADO NÃO TEM LEGITIMIDADE PARA JULGAR SEQUER SÍNDICO DE PRÉDIO
UM GOLPE E NADA MAIS

Vladimir Safatle, via Folha de S.Paulo em 25/03/2016

A crer no andar atual da carruagem, teremos um golpe de Estado travestido de impeachment já no próximo mês. O vice-presidente conspirador já discute abertamente a nova composição de seu gabinete de “união nacional” com velhos candidatos a presidente sempre derrotados. Um ar de alfazema de República Velha paira no ar.

O presidente da Câmara, homem ilibado que o procurador-geral da República definiu singelamente como “delinquente”, apressa-se em criar uma comissão de impeachment com mais da metade de deputados indiciados a fim de afastar uma presidenta acusada de “pedaladas fiscais” em um país no qual o orçamento é uma mera carta de intenções assumida por todos.

Se valesse realmente este princípio, não sobrava de pé um representante dos poderes executivos. O que se espera, na verdade, é que o impeachment permita jogar na sombra o fato de termos descoberto que a democracia brasileira é uma peça de ficção patrocinada por dinheiro de empreiteiras. Pode-se dizer que um impeachment não é um golpe, mas uma saída constitucional. No entanto, os argumentos elencados no pedido são risíveis, seus executores são réus em processos de corrupção e a lógica de expulsar um dos membros do consórcio governista para preservar os demais é de uma evidência pueril. Uma regra básica da justiça é: quem quer julgar precisa não ter participado dos mesmos atos que julga.

O atual Congresso, envolvido até o pescoço nos escândalos da Petrobras, não tem legitimidade para julgar sequer síndico de prédio e é parte interessada em sua própria sobrevivência. Por estas e outras, esse impeachment elevado à condição de farsa e ópera bufa será a pá de cal na combalida semidemocracia brasileira.

Alguns tentam vender a ideia de que um governo pós-impeachment seria momento de grande catarse de reunificação nacional e retomada das rédeas da economia.

Nada mais falso e os operadores do próximo Estado Oligárquico de Direito sabem disto muito bem. Sustentado em uma polícia militar que agora intervém até em reunião de sindicato para intimidar descontentes, por uma lei antiterrorismo nova em folha e por um poder judiciário capaz de destruir toda possibilidade dos cidadãos se defenderem do Estado quando acusados, operando escutas de advogados, vazamento seletivo e linchamento midiático, é certo que os novos operadores do poder se preparam para anos de recrudescimento de uma nova fase de antagonismos no Brasil em ritmo de bomba de gás lacrimogêneo e bala.

Uma fase na qual não teremos mais o sistema de acordos produzidos pela Nova República, mas teremos, em troca, uma sociedade cindida em dois.

O Brasil nunca foi um país. Ele sempre foi uma fenda. Sequer uma narrativa comum a respeito da ditadura militar fomos capazes de produzir. De certa forma, a Nova República forneceu uma aparência de conciliação que durou 20 anos. Hoje vemos qual foi seu preço: a criação de uma democracia fundada na corrupção generalizada, na explosão periódica de “mares de lama” (desde a CPI dos anões do orçamento) e na paralisia de transformações estruturais.

Tudo o que conseguimos produzir até agora foi uma democracia corrompida. A seguir este rumo, o que produziremos daqui para a frente será, além disso, um país em estado permanente de guerra civil.

Os defensores do impeachment, quando confrontados à inanidade de seus argumentos, dizem que “alguma coisa precisa ser feita”. Afinal, o lugar vazio do poder é evidente e insuportável, logo, melhor tirar este governo. De fato, a sequência impressionante de casos de corrupção nos governos do PT, aliado à perda de sua base orgânica, eram um convite ao fim.

Assim foi feito. Esses casos não foram inventados pela imprensa, mas foram naturalizados pelo governo como modo normal de funcionamento. Ele paga agora o preço de suas escolhas.

Neste contexto, outras saídas, no entanto, são possíveis. Por exemplo, a melhor maneira de Dilma paralisar seu impeachment é convocando um plebiscito para saber se a população quer que ela e este Congresso Nacional (pois ele é parte orgânica de todo o problema) continuem. Fazer um plebiscito apenas sobre a Presidência seria jogar o país nas mãos de um Congresso gangsterizado.

Em situações de crise, o poder instituinte deve ser convocado como única condição possível para reabrir as possibilidades políticas. Seria a melhor maneira de começar uma instauração democrática no país. Mas, a olhar as pesquisas de intenção de voto para presidente, tudo o que a oposição golpista teme atualmente é uma eleição, já que seus candidatos estão simplesmente em queda livre. Daí a reinvenção do impeachment.

Via Brasil 247
 
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