segunda-feira, 14 de março de 2016

Você não foi às manifestações ontem! Claro, você não é tão rico assim e nem banqueiro. Só se for mané!

Se está lendo este texto, com certeza, não foi à manifestação do dia 13, ontem. É que, a bem da verdade, eu desconfio que você não é rico, mesmo, ou banqueiro, não é verdade? Já que só esta dupla “dinâmica” e histórica em movimentos assim, como poderia dizer: golpistas? Endossaria uma insanidade destas.

Tem outra categoria que deve ter ajudado a dar volume as contestações contra a Dilma, a dos manés, é, a dos manés, que seriam aqueles que não tem a mínimo noção de que está fazendo papel de bobo alegre, e o pior, protestando contra si mesmo e o seu futuro e de sua família, isso para ficarmos no âmbito familiar pessoal, já que com sua ação – será se teríamos alguns adjetivos especias para qualificar? – está 'ferrando' todos com ele e/ou de 'faixas adjacentes', ou, resumindo, 'ferrando todo o Brasil.

Claro, exceto as duas 'categorias' citadas acima e os seus sócios ou parceiros históricos além-fronteira.

Se foi e ainda tem dúvidas se é ou não mané, dê uma olhadinha no parágrafo abaixo. Ele já dá uma força para você se situar melhor.
André Forastieri: “Só tem uma boa razão para você protestar no dia 13: se você é rico (ou banqueiro)”
Lula na cadeia? Lula fora da cadeia? Cunha, Dilma, Aécio? Vamos falar de coisa séria: dinheiro. Vamos falar de quarenta e oito bilhões de reais. É quanto lucraram em 2015 o Bradesco, Itaú e Santander. Foi R$ 20,6 bi para o Itaú, R$ 19,9 bi e R$ 6,6 para o Santander. Considerando que 2015 foi ano de crise brava, você poderia imaginar que o lucro dos bancos ia cair. Em vez disso, subiu. Bradesco teve lucro 16,4% maior que em 2014; Itaú, 15,6% maior; Santander, 13,2% maior.

E em 2016? A crise econômica apertou. Será que os bancos vão conseguir ter lucros gigantescos novamente? Com a palavra, os próprios bancos, conforme reportagem de Felipe Marques e Vinícius Pinheiro no Valor Econômico. O Itaú indicou a analistas que seu lucro pode cair em torno de 15% ao ano (seria de um pouco mais de R$ 17 bilhões). O Credit Suisse avalia que o Bradesco deve ter uma queda similar, de 14% (também ficaria em torno de R$ 17 bilhões). Já o presidente do Santander Brasil, Sérgio Rial, garante que o Santander terá lucros maiores esse ano no país. Se essas previsões se confirmarem, os bancos terão lucros gigantescos, no meio da maior recessão da nossa história em décadas. Mas serão lucros menores que em 2015.

Isso, se nada mudar.

Mas os bancos brasileiros, os bancos internacionais, e quem tem muito dinheiro pra investir, seja brasileiro ou estrangeiro, torcem para que uma coisa mude. Uma coisa só. E mude o mais rápido possível.
E essa coisa é a taxa de juros.

Para os especialistas, a queda projetada no lucro dos bancos em 2016 está ligada a três elementos. A diminuição do crédito, o aumento da inadimplência, e a taxa de juros. O crédito vai continuar caindo. Os calotes vão continuar aumentando. O país está em uma recessão brava e não levanta tão cedo. É inevitável que os bancos emprestem ainda menos para empresas e para pessoas físicas. E natural que fazer uma provisão maior dos seus recursos para se protegerem da inadimplência.

Sobra uma única coisa que pode fazer os lucros dos bancos serem muito maiores do que está projetado para 2016. Basta uma canetada. Basta o Banco Central do Brasil subir a taxa de juros.

Hoje a taxa básica, a Selic, está em 14,25%. É altíssima para padrões internacionais. É cretiníssima, considerando-se que o país está em recessão, e que a inflação que temos não tem nada a ver com demanda. É resultado direto da desvalorização do real, da instabilidade política e do tarifaço promovido pelo próprio governo ano passado. O PIB está despencando e mesmo assim nossa taxa de juros está nas alturas.

Mas não está alta o suficiente para fazer o lucro dos bancos voltar ao patamar de 2015. E, mais preocupante ainda para os banqueiros, o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, já sinalizou que a taxa vai ficar estável, nesse patamar. Ou até, quem sabe, apareça oportunidade para baixá-la.

Donde a pressão dia e noite para que o Banco Central suba os juros. Nos programas de TV, nos artigos dos especialistas, nas análises dos experts internacionais. Donde a pressão sobre Tombini e Nelson Barbosa, fiadores dessa política, e Dilma, chefa dos dois. Dilma que já tentou baixar o patamar dos juros brasileiros anos atrás, na canetada, e levou lambada de tudo que foi lado.

O que acontece se o juro baixar? Diminui o lucro dos bancos. Diminui o lucro de quem tem muito dinheiro investido nos bancos. Não é que eles não vão lucrar. Vão lucrar e muito. Mas não nos patamares indecentes que lucram hoje.

Pela razão que seja, Dilma resiste a subir ainda mais os juros. Então engrossa a cada dia a campanha para o Brasil trocar Dilma por um presidente mais “alinhado com o mercado”. Que faça “os ajustes que o Brasil precisa”. Que corte na previdência, nas aposentadorias, no valor do salário mínimo.

Que nos garanta boas notas das agências de rating. E, claro, que aumente os juros – porque é isso que o Brasil precisa para “restaurar a credibilidade”…

O roteiro da mudança é claríssimo. É fazer exatamente o que está sendo feito na Argentina. O presidente recém-eleito, Maurício Macri, criou uma equipe econômica que é uma perfeita filial de Wall Street. A Bloomberg, que é a voz jornalística mais influente no mercado financeiro global, publicou uma reportagem com o seguinte título: “JPMorgan and Deutsche Bank Boys Are Running the New Argentina” (“os caras do JPMorgan e Deutsche Bank estão dirigindo a Nova Argentina”).

É isso. O novo ministro das finanças, Alfonso Prat-Gay. é veterano do JPMorgan. Escolheu como seus braços direitos, para fazer a gestão da dívida do país, outros dois ex-JPMorgan, Luis Caputo e Santiago Bausili. Caputo chegou a ser diretor geral do Deutsche Bank na Argentina. O secretário executivo do Ministério, Mario Quintana, criou o fundo de investimentos Pegasus Venture Capital.

E por aí vai. É tudo gente que veio do Goldman Sachs, Barclays, Morgan Stanley. Os postos chave do novo governo argentino estão todos ocupados por financistas, executivos, economistas de banco. Não é à toa que os credores da Argentina estão chamando essa turma de “a melhor equipe econômica da região.”

A política econômica atual do Brasil é desastrosa para o país. É necessário e urgente mudá-la. Isso sim seria uma ótima razão para protestos de milhões. Mas os que estão à frente do movimento para tirar Dilma do Planalto têm um projeto ainda mais danoso que o dela (por difícil de imaginar que seja). O protesto deste dia 13 tem como objetivo final tirar Dilma e colocar em seu lugar – bem, quem? E para fazer exatamente o quê? Isso os líderes dos protestos não dizem. Ficam em brados vagos, combater a corrupção etc.

Não falam porque não ganham nada assumindo que o plano para o Brasil é o “Plano Argentina”. É ocupar o governo brasileiro com banqueiros. Priorizar os ganhos financeiros e não quem trabalha, produz ou empreende. Piorar a rede de proteção social dos pobres, piorar os serviços, privatizar a qualquer custo e preço. Cortar na carne de quem já está pele e osso. E encher ainda mais os cofres de quem já tem muito, no Brasil e no exterior. Se você pensa que a vida está difícil sob Dilma, não sabe o que te espera.

Isso lá é razão para defender Dilma? Mas de jeito nenhum. Não se trata de defender ou atacar um lado. Se trata de colocar em pauta o que realmente interessa, e o que está acima dos partidos e das pessoas: vamos construir um país mais justo, mais produtivo, mais educado e menos corrupto? Como fazemos isso? Brigando pelo que é importante, não “contra tudo que está aí”.

Se você é rico e vai lucrar ainda mais se Dilma for trocado por algum fantoche de Wall Street, ué, vá para as ruas defender seu interesse. Se você é um dos 99,9% dos brasileiros que não vivem de juros, pense duas vezes.

Por André Forastieri

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