(…) o semiólogo
afirma que não quis escrever um "tratado de jornalismo",
mas contar uma história sobre os limites da informação, sobre como
funciona uma máquina de denegrir, e não tanto sobre o trabalho de
informar.
O autor analisa o caso italiano, quando
a mídia usando métodos que poderiam ser chamados de qualquer coisa,
menos de informar e/ou esclarecer, como seria o mínimo a se esperar
de um meio dito de comunicação e/ou informação.
A referência a seu livro é bem
oportuna já que estamos vivendo um processo semelhante àquele que
ele relata em seu livro na Itália dos anos 90, ajudando a
compreender a “dinâmica” de funcionamento de mídia local.
Um processo explícito de difamação e
destruição de imagens de políticos e autoridades visando objetivos
idênticos, no nosso caso específico, resgatar um poder de decisão,
de retomada da posse do Estado por setores políticos e econômicos
associados ao capital multinacional e a interesses norte-americanos
por aqui.
"Humberto Eco e o mau jornalismo
“Número Zero”, novo romance do escritor italiano, é
ambientado em 1992 e mostra a história de um jornal criado para
difamar.
O famoso escritor e ensaísta italiano Umberto Eco apresentou
nesta semana na Itália seu novo romance, Número zero, uma espécie
de manual do mau jornalismo ambientado na redação de um jornal
imaginário.
O novo livro do influente intelectual italiano, autor do famoso
romance O nome da rosa e de importantes tratados de semiótica, é
uma história de ficção ambientada em 1992, um ano particular para
a Itália contemporânea, marcado pelos escândalos de corrupção e
pela investigação "Mani Pulite" (Mãos limpas), que
arrasou com boa parte da classe política da época.
O livro se concentra, sobretudo, nos mistérios não resolvidos
que sacudiram nestes anos a Itália, entre eles o protagonizado pela
loja maçônica Propaganda 2 do temido Licio Gelli, que queria dar um
"golpe branco". "É o primeiro romance de Eco que fala
de uma época tão recente", reconhece Elisabetta Sgarbi,
diretora da editora Bompiani.
Eco descreve a redação imaginária de um jornal, criado naquele
ano, para desinformar, difamar adversários, chantagear, manipular,
elaborar dossiês e documentação secreta. "Para mim é um
manual da comunicação de nossos dias", sustenta Roberto
Saviano, renomado jornalista antimáfia da Itália, que vive sob
escolta pelas ameaças de morte que recebe das organizações
criminosas.
Leia
também: “As
redes sociais deram voz aos imbecis”: Veja outras preciosidades da
lavra do Umberto Eco
Em uma conversa entre Eco e Saviano, publicada pela
revista L'Espresso, o semiólogo afirma que não quis escrever
um "tratado de jornalismo", mas contar uma história sobre
os limites da informação, sobre como funciona uma máquina de
denegrir, e não tanto sobre o trabalho de informar. "Escolhi o
pior caso. Quis dar uma imagem grotesca do mundo, ainda que o
mecanismo da máquina para sujar, de lançar insinuações, já fosse
usado durante a Inquisição", comentou Eco.
Saviano, que considera que as redes sociais multiplicaram esta
forma de denegrir gerando verdadeiros monstros, acredita que o
magnata das comunicações e ex-primeiro-ministro Silvio Berlusconi
marcou o início dessa era, entre boatos e informações, vida e
vícios tanto privados quanto públicos. "Escolhi 1992
porque considero que este ano marca o momento de um declínio na
história da sociedade italiana", disse Eco em uma entrevista
ao Corriere della Sera.
No livro, o semiólogo se diverte citando frases famosas ou
lugares comuns do jornalismo, como "no olho do furacão",
"um duro revés" ou "com a água no pescoço". "Não
é necessário estrangular a avó para perder a credibilidade. É
suficiente contar que o juiz usa meias na cor laranja. Por que
será?", contou Eco citando um caso verdadeiro durante uma longa
entrevista à RAI.
Graças aos delírios de um redator paranoico, Eco conta fatos
concretos, mas reconstruídos a partir de teorias bizarras ou que se
entrelaçam estranhamente com outras e que terminam por criar uma
nova notícia.
É o caso da loja maçônica P2, do suposto assassinato do papa
Luciani (João Paulo I), dos cúmplices das brigadas vermelhas que
trabalhavam para os serviços secretos, dos tentáculos da CIA, dos
atentados e até de um falso cadáver de Benito Mussolini com o qual
conseguiram salvá-lo e enviá-lo à Argentina. Todas são
histórias que o leitor não conseguirá determinar se são fatos
inventados ou a descrição da realidade, segundo o escritor.
Por Kelly Velazquez, na
AFP
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