Não se sabe se é algum sentimento glorioso de honestidade
que grassa pelo país, ou se é o velho complexo de vira-latas que
insiste em fazer com que muitos por aqui se achem morando no pior dos
mundos.
Eu cá tenho minhas dúvidas sobre o primeiro item, sobretudo. A
não ser que o conceito de honestidade – de anticorrupção
– seja um conceito tão flexível que permita infintas variações.
Variações estas que integram o nosso cotidiano em todos os setores
e ou dimensões de nossa sociedade.
Sobre o segundo item, com toda licença poética seria uma questão
de opinião.
Mas, voltando ao primeiro, o tal “jeitinho” pode muito
bem ter bolado isso, e criado uma graduação “ad infinitum” para
considerar, classificar, o delito como delito, é claro. Quem sabe o
tamanho do delito, como se o volume diluísse o conceito quando as
instâncias são – como poderia dizer? – inferiores? Pequenas? De
pouco valor?
Todo mundo, literalmente, sabe do que estamos falando.
Já viu? - Receita Federal garante crédito de R$ 125 bilhões em autuações em 2015
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Então porque este purismo, este rigor santo todo ao julgar o “dos
outros”. Essa “coisa meio esquizoide” é serviço para os
nossos sociólogos e outros “ólogos…” Com isso talvez
consigamos atenuar, ou mesmo tirar, o véu sutil de hipocrisia
que rola em todos os seguimentos sociais.
Claro que não existe nenhuma dúvida quanto a conveniência, e
urgência, para darmos um bom trato nessa coisa secular que está
entranhada em todo o tecido social e que funciona como um entrave
sério ao desenvolvimento mais harmônico e justo do Brasil.
“Os brasileiros são muito pessimistas: a corrupção nos EUA é pior do que no Brasil”, avalia Henry Mintzberg
Considerado uma mente brilhante do mundo empresarial, Henry
Mintzberg (foto) tem 76 anos e é professor da universidade
canandense McGill, em Montreal, desde 1968. Antes de conquistar
reconhecimento como acadêmico nos cursos de administração, fez um
doutorado na MIT Sloan School of Management em Cambridge, no estado
norte-americano de Massachusetts.
Publicou mais de 150 artigos destinados ao mundo dos negócios e
15 livros. Mintzberg concebe modelos organizacionais de companhias em
seis partes: segmento estratégico, linha média de administração,
operacionais, analistas técnicos, funcionários de suporte e
ideologia empresarial.
No dia 3 de março Henry Mintzberg irá até Brasília para
debater política com a ex-candidata e fundadora da Rede, Marina
Silva. Vão conversar sobre seu novo partido e a atual situação
brasileira. Na opinião do canadense, os brasileiros são
excessivamente “pessimistas”, o programa Bolsa Família foi um
grande passo no combate à desigualdade social e a corrupção
norte-americana é pior do que a nossa.
Mintzberg defendeu em um artigo publicado em seu blog no dia 18 de
fevereiro de 2016 a diferença entre os corruptos norte-americanos e
brasileiros. “A corrupção no Brasil é criminalizada e ela pode
ser processada. A maior parte da corrupção encarada pelos Estados
Unidos é legal, e seus perpetradores não podem sofrer sanções da
Justiça”, diz o estudioso do mundo dos negócios, citando o caso
da Petrobras.
De acordo com a Transparência Internacional, o escândalo da
Petrobras é o segundo maior do mundo. No entanto, a legalização do
lobby e do financiamento empresarial norte-americano tornaria
teoricamente mais difícil a apuração da corrupção, que pode
acontecer livremente e sem interferência jurídica segundo
Mintzberg.
Em seu livro Renovação Radical, lançado em português
em 2015, o acadêmico defende que os brasileiros trazem um equilíbrio
entre iniciativas públicas, privadas e plurais – sendo a última
vinda de ONGs, associações mistas e cooperativas – que tornam a
sociedade mais eficiente.
Para entender melhor a opinião dele, o DCM conversou com Henry
Mintzberg por telefone antes de sua visita ao Brasil.
O que você acha da Operação Lava-Jato? Ela está
fazendo um bom trabalho? A Presidência de Dilma Rousseff está
prejudicada de maneira irreversível?
Não sou capaz de julgar judicialmente as ações, mas vocês no Brasil ao menos estão processando os acusados. Nos Estados Unidos, o financiamento privado de campanhas está dentro da lei. Todos podem doar para campanhas políticas. Já no país de vocês, a Suprema Corte diz que isso não pode acontecer e que as fontes precisam ser investigadas. Vocês ao menos estão lidando com isso, mas eu sou incapaz de avaliar os efeitos imediatos. Eu comparei a corrupção entre norte-americanos e brasileiros e acho que os EUA são piores nisso. A corrupção nos Estados Unidos é pior do que no Brasil, porque lá ela é legal.
As investigações da Lava-Jato e os casos de corrupção
não contribuem para acentuar a crise econômica brasileira?
São muitos fatores que afetam o Brasil e sua economia, sendo alguns deles de fora do país. Temos o preço do petróleo, a depreciação das commodities e tudo isso afeta tanto quanto os problemas das empresas envolvidas nas investigações.
Governos populares não são mais visados em investigações
do que os conservadores?
Todos os governos envolvidos em investigações ficam em apuros, mas você quer saber uma coisa? O Brasil ainda tem problemas de desigualdades piores do que muitos países, mas vocês estão melhorando no combate a estes problemas, que são muito sérios. A desigualdade está diminuindo para os brasileiros e está aumentando em outras nações. Ao menos os brasileiros estão lidando com uma questão séria.
Lindando contra a desigualdade econômica também?
As desigualdades para vocês estão ficando menores, sim. No caso dos norte-americanos, isso está piorando muito.
Você pode citar exemplos de como isso aumenta hoje nos
Estados Unidos?
A economia norte-americana é vigorosa por conta de seu empreendedorismo robusto. Eles têm todo o tipo de novas empresas agressivas, do Google até a Amazon. Mas a sociedade dos EUA está com um grande problema, embora os índices econômicos não estejam tão mal.
Qual é o problema deles, em sua opinião? É com as
minorias e com a recepção de pessoas de fora do país?
Eles realmente têm muitas complicações. Desde o sistema penitenciário, que aprisiona muito e injustamente, até o uso intenso de drogas, o boom de pessoas obesas… A sociedade norte-americana hoje está mal formatada.
Políticos de sociedades como a Suécia, Finlândia e
outros países da Escandinávia podem ser um exemplo para o Brasil e
para os EUA ou estão muito distantes?
Acho que podem ser um exemplo para o resto do mundo, mas também acho que o Brasil pode inspirar outros países. Os brasileiros têm o terceiro setor, formado por ONGs e organizações mistas entre público e privado, mais vigoroso que eu tenho conhecimento. Isso pode ser exemplar globalmente. Eu falo disso pelo sucesso de iniciativas como o Bolsa Família. Falo de economia participativa em Porto Alegre e das oportunidades que vocês ainda têm com o etanol. Todas essas coisas não são encontráveis em muitos outros países.
E, além do etanol, temos o pré-sal, não é?
Há muitas coisas boas no Brasil e o petróleo de vocês é muito importante. As economias escandinavas que você me listou são as mais democráticas do mundo, mas quer saber uma coisa? Elas são todas pequenas. Todos os cinco países da Escandinávia e a Suíça estão no topo dos rankings de democracia e, depois deles, a primeira nação grande que aparece é o Canadá. É a sexta maior. A relação é desigual neste aspecto.
Você falou que visitará Marina Silva no Brasil durante o
dia 3 de março. O que você sabe da campanha dela em 2014? Vão
discutir sobre ecologia e energias renováveis?
Não sei muito sobre política brasileira e seus detalhes, mas ela quer conversar comigo sobre seu movimento e eu quero ouvi-la.
Você gostaria de falar algo aos brasileiros neste momento
de crise econômica, com desemprego subindo e problemas
empresariais?
Acho que o Brasil deveria dar um passo para trás, observar e entender que existem sim coisas maravilhosas acontecendo no país de vocês.
Somos então muito pessimistas com a sociedade que temos
hoje?
Vocês são bastante pessimistas, sim. Por todos estes motivos que conversamos, o Brasil é o país mais interessante para mim neste momento.
Pedro Zambarda de Araújo, via DCM
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