Seguem estas frases e citações abaixo a título de
apresentação deste excelente artigo. Vale à pena dar uma olhada. Todas entre
aspas.
- Keith Olbermann, comentarista esportivo e
político norte-americano, em entrevista a Bill Maher, comentando o debate dos
candidatos republicanos, disse que muitos deles, senão todos, pareciam sessão
de comentários do feicebuque como
candidatos a presidente do país.
- “Os
burros estão por toda parte, muitos deles estudaram nas melhores escolas e, o
pior, muitos ensinam nas melhores escolas. A ‘moção de repúdio’ a Simone de
Beauvoir foi aprovada pela Câmara de Campinas por 25 votos a cinco. Assim, os
burros são a maioria. É preciso enfrentá-los com pensamento, fazer a
resistência pelo diálogo”.
- Estas reflexões sobre o mundo internetês
seguem a mesma linha de pensamento de Umberto Eco quando diz que “a internet deu voz
aos imbecis”, e a Juan Arias, que vai mais longe ao afirmar que ela “organizou os
imbecis”.
-... Jarbas Passarinho quando da edição do
AI- 5 em 1968, quando disse: “Às favas, senhor
presidente, neste momento, todos os escrúpulos de consciência”. (O ícone
mor da ditadura de 64).
- “Precisamos acabar com
essa raça”, referindo-se aos políticos de
esquerda – principalmente o PT. Disse o ex-senador catarinense Jorge
Bornhausen (PFL, DEM e agora no PSD), em 2006.
“A internet como um espaço midiático para a 'burrice máxima’
Keith Olbermann, comentarista esportivo e político
norte-americano, em entrevista a Bill Maher, comentando o debate dos candidatos
republicanos, disse que muitos deles, senão todos, pareciam sessão de
comentários do feicebuque como candidatos a
presidente do país. A ironia nem é fina. É sarcástica. Para mim, soou como um
eufemismo para evitar chamá-los de burros. Que é como Eliane Brum faz, sem
meias palavras, no seu artigo “Parabéns, atingimos a burrice
máxima”.
Vale reproduzir um parágrafo deste artigo onde
está dito o seguinte: “Os burros estão por toda parte, muitos deles estudaram
nas melhores escolas e, o pior, muitos ensinam nas melhores escolas. A ‘moção
de repúdio’ a Simone de Beauvoir foi aprovada pela Câmara de Campinas por 25
votos a cinco. Assim, os burros são a maioria. É preciso enfrentá-los com
pensamento, fazer a resistência pelo diálogo”.
No caso de Eliane Brum, ela foca o Brasil que
exala e “cheira mal” nas sessões dos comentários das mídias sociais. No fundo,
é o mesmo (des)espírito denunciado por Keith Olbermann na dita entrevista se
reportando, por sua vez, ao público americano. Estas reflexões sobre o mundo
internetês seguem a mesma linha de pensamento de Umberto Eco quando diz que “a
internet deu voz aos imbecis”, e a Juan Arias, que vai mais longe ao afirmar
que ela “organizou os imbecis”.
Na esteira destas reflexões ouso afirmar que,
concordando com estes pensadores, percebo algo mais assustador, que é a opção
da grande mídia brasileira pelo pensamento conservador e mesmo reacionário dos
grotões. Grotões que sempre foram sinônimos de redutos da direita mais
retrógrada. Grotões que funcionavam como o último reduto do coronelismo
político. De certo modo, faz sentido esta opção, já que a grande mídia opera,
segundo o estudo Coronelismo Eletrônico de Novo Tipo (1990-2004),
de Venício A. de Lima e Christiano Aguiar Lopes, um coronelismo midiático.
Coronelismo midiático porque agora o público-alvo da manipulação ideológica é
urbano. Novos tempos, novas técnicas.
De espaço geográfico a espaço midiático
Os grotões – alguns preferem chamá-los de senso
comum conservador –, que sempre habitaram a cabeça das pessoas dos mais
variados e diversos perfis, passaram da condição dos comentários feitos no dia
a dia e ganharam o estatuto de opinião ao se apresentarem por inteiro nas
sessões de comentários da internet.
Logo, nada mais natural em uma mídia voltada para
o mercado do que escolher os mais representativos desta fauna. Raciocínio
prático e raso voltado não para a formação de um cidadão com alto grau de
civilidade, mesmo quando conservador e/ou de direita.
Estamos diante de uma reedição pela grande mídia,
guardadas as proporções, do discurso de Jarbas Passarinho quando da edição do
AI- 5 em 1968, quando disse “Às favas,
senhor presidente, neste momento, todos os escrúpulos de consciência.” A
frase, que foi modificada na ata sem prejuízo de sentido (as “favas” foram
trocadas pela conjugação verbal “ignoro”). Às favas valores democráticos que
mais entravam o avanço ou a manutenção dos interesses dos mais ricos, entre os
quais estão os donos de jornais, revistas semanais, TVs e rádios.
Como Getúlio
Vargas e João Goulart antes, o PT no governo demonstrou não ser confiável na
defesa intransigente destes interesses, apesar das concessões feitas de
blindagem dos interesses dos rentistas e investidores, a solução é a dada pelo
ex-senador catarinense Jorge Bornhausen (PFL, DEM e agora no PSD), que em 2006
disse “Precisamos acabar com essa raça”,
referindo-se aos políticos de esquerda – principalmente o PT. Raça dos que
defendem reformas que muitos consideram tímidas, mas que representam muito para
grande parcela da população.
A razão disso. Além das já comentadas, existe
outra que me parece determinante. A saber: a falta de argumentos racionais para
defender ideias conservadoras e reacionárias. Fato que se agravou com a quebra
de 2008 quando justamente o neoliberalismo era hegemônico, sem nenhum
contraponto ideológico depois do fim do socialismo real e a queda do muro de
Berlim. Sem ninguém para confrontá-los, eles quebraram o mundo ao por em
prática suas ideias sociais, econômicas e políticas. Segundo os seus mais
entusiasmados adeptos, como o ex-presidente FHC, estávamos diante de uma nova
renascença. Deu no que deu. Como se não bastasse, tiveram que ser socorridos
pelo demônio Estado. Tudo na contramão dos ensinamentos do Corão do
neoliberalismo, o Consenso de Washington.
Como no contexto atual ficou difícil promover um
golpe militar, o novo paradigma é o modelo paraguaio de inviabilização de
governos eleitos democraticamente com um mínimo de compromisso com as classes
desfavorecidas. Modelo que implica ataque sistemático da imprensa, aliado a
questionamento jurídico da vitória eleitoral feito por aliados no judiciário.
Daí a opção da grande mídia pelo pensamento anti-republicano dos grotões que
habitam o coração e a mente das pessoas.
Faz todo o sentido esta nova opção dado que os
grotões, ao se corporificarem nas sessões de comentários da internet, passaram
da condição de um espaço geográfico apenas para, também, e principalmente, um
espaço midiático pautando e sendo pautado, em um ciclo vicioso, por editoriais,
colunas de jornais dos formadores de opinião de direita e espaços nobres da TV
e rádio.
Por Jorge Alberto Benitz, no Observatório da Imprensa
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