Foi
como disse o eminente jurista Rui Barbosa: “A
pior ditadura é a do poder judiciário. Contra ela, não há quem recorrer”.
Pelo visto
é o que estamos vendo, e vivendo, nesse momento no país. A imagem da casa, a
Justiça – o STF, sobretudo – vem caindo na descrença e na boca do povo em
função de suas arbitrariedades, no sentido pejorativo do termo, como se fosse constituído
de semideuses acima do bem e do mal e além da própria lei. A lei maior, a Constituição
Federal.
Neste contexto,
o que nos resta é uma Constituinte – já que acontecimentos recentes tornaram
obsoleta a Constituição até então em vigor – para ‘botar ordem na casa’ e
resgatar o poder real e a credibilidade de instância fundamental, ao lado dos outros
poderes da República, na construção e preservação do estado de direito e da democracia.
"Supremo rasga a Constituição e abre caminho para a Constituinte, por J. Carlos de Assis
A
Constituição fala em poderes independentes e harmônicos, mas nada fala quando
os poderes deixam de ser harmônicos e tornam-se um campo de batalha uns contra
os outros, e de todos contra o povo e a República. O Supremo acaba de proteger
quatro de seus membros da suspeita de estarem mancomunados com o senador
Delcídio nas tentativas deste de escapar de uma delação premiada.
Curiosamente,
a gravação que incriminou o Senador não serviu para incriminar os ministros do
Supremo que ele citou. A inocência deles é baseada na palavra. E isso parece
suficiente ao esperto procurador geral da República, que conseguiu dessa
maneira um instrumento de chantagem contra o STF, talvez também gravado.
Meses
atrás um advogado ligado à OAB e à CNBB tentava me convencer de que a solução
política para o Brasil não comportava uma Constituinte, porque Constituinte só
se justifica depois de uma ruptura constitucional. Esse argumento já não
existe. O Supremo Tribunal, o Executivo e o Legislativo, todos a seu modo,
romperem os limites da Constituição. De todos, o comportamento o mais grave é o
STF pois ele, formalmente, é o guardião da Carta Magna. E verifico no artigo
dos professores de Direito Rômulo de Andrade Moreira e Alexandre Morais da
Rosa, no Jornal GGN, que o Supremo
rasgou nossa Constituição no caso da prisão de Delcídio, inclusive ao aceitar
como prova judicial uma gravação não autorizada.
Estão, portanto, criadas as condições institucionais para a Constituinte, que entre suas atribuições deverá ter a de recriar nosso sistema judiciário. Falta discutir o modo de fazê-la. Com essa estrutura partidária viciada que está aí não dá: esse Congresso é totalmente inconfiável, e um novo Parlamento eleito com os mesmos critérios não seria melhor. Ter eliminado o financiamento empresarial das campanhas foi um bom começo. Mas é preciso definir as formas alternativas de financiamento já que o arremedo do jogo democrático não pode permitir que partidos de aluguel, verdadeiras bancas de negociatas, suguem dinheiro público para pregar bandeiras de puro interesse próprio.
Estão, portanto, criadas as condições institucionais para a Constituinte, que entre suas atribuições deverá ter a de recriar nosso sistema judiciário. Falta discutir o modo de fazê-la. Com essa estrutura partidária viciada que está aí não dá: esse Congresso é totalmente inconfiável, e um novo Parlamento eleito com os mesmos critérios não seria melhor. Ter eliminado o financiamento empresarial das campanhas foi um bom começo. Mas é preciso definir as formas alternativas de financiamento já que o arremedo do jogo democrático não pode permitir que partidos de aluguel, verdadeiras bancas de negociatas, suguem dinheiro público para pregar bandeiras de puro interesse próprio.
A meu
ver, das excrescências institucionais do sistema partidário atual um dos mais
aberrantes é justamente o financiamento público do fundo partidário. É isso que
está na origem de 39 partidos no Brasil, uma proliferação em nome da democracia
que, no fundo, embaralha a democracia. Partidos tinham que buscar seu
financiamento diretamente junto ao povo, com contribuições individuais
limitadas a um certo valor. Nâo faz nenhum sentido que, sendo partidos,
portanto partes da sociedade, vivam à custa do Estado como um todo, que,
paradoxalmente, os financia a cada um e a todos eles para tomarem o poder do próprio
Estado com dinheiro público!
Por J.
Carlos de Assis
J.
Carlos de Assis é jornalista, economista, doutor pela Coppe/UFRJ, autor do
recentemente lançado “Os Sete Mandamentos do Jornalismo Investigativo”, Ed.
Textonovo, SP.
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