Falávamos ainda há pouco, em artigo publicado aqui,
que o Cunha iria perder a relevância, como poderia dizer – exacerbada? – que
lhe conferiam os atos extremamente arbitrários, como se detentor de costas mais
largas do que o usual ou à realidade dos fatos mostrava.
Fatos estes não de todo ocultos pela mídia
associada e interessada, mas, pelo visto, o seu tempo chegou mais cedo, e
quando o barco – da insensatez – começa a fazer água, quem primeiro o abandona
são os ratos, no caso a ‘corja’ que lhe conferia sustentação.
"As décadas de janela na política permitem a Janio
de Freitas ver o obvio que a muitos escapa.
Em seu artigo hoje, na Folha, resume a ópera: “Tudo
que se passou na política desde a segunda posse de Dilma Rousseff esteve, e
está, condicionado pelo retorno ao poder do grupo Collor, ocupante das
presidências de Senado e Câmara com Renan Calheiros e Eduardo Cunha”.
A ele acumpliciaram-se a oposição tucana e a mídia,
prontos a confraternizar com tudo o que pudesse abalar o resultado eleitoral.
As semelhanças que a leitura de Janio nos provoca,
porém, vai mais adiante: a reação patética de Eduardo Cunha nos remete àqueles
tempos do “não me deixem só” das bravatas sem sustentação política do
ex-presidente, algo que a gente já sabe como termina.
Efeitos de um processo de degradação da política
que vem de longe, desde o tempo de Sarney, quando os partidos começaram a ser
degradados, até que o quadro parlamentar viesse a se tornar a mixórdia de hoje
– e já de muitos anos – com o qual, porém, tem-se de conviver.
A incapacidade dos governos petistas de promover
uma reforma política – incapacidade, porém, derivada em parte das reações do
conservadorismo, a quem sempre interessa um parlamento corrupto e cúmplice dos
interesses do dinheiro, tinham e teriam ainda mais se os passos para
implementá-la fossem para valer.(Fernando Brito)
Janio de Freitas
A direção mudou. Mas não muda o peso de verdade
dado a umas poucas palavras acusatórias vindas, sem provas ou indícios, de
pessoa com idoneidade inatestável.
E as instituições políticas se abalam, jornalistas
falam de futuras retaliações e derrubadas entre Câmara e Presidência, políticos
espertalhões pensam em um acordo de compensações com impeachment de Eduardo
Cunha e impeachment de Dilma. Claro, Estado de Direito e democracia à
brasileira.
Tudo que se passou na política desde a segunda
posse de Dilma Rousseff esteve, e está, condicionado pelo retorno ao poder do
grupo Collor, ocupante das presidências de Senado e Câmara com Renan Calheiros
e Eduardo Cunha, discípulo que encantou PC Farias.
É apenas lógica a volta do próprio Fernando Collor
à projeção, acompanhado, entre outros, de Pedro Paulo Leoni Ramos, que foi o
seu encarregado de neutralizar a rede de informações e negócios do SNI, para
maior tranquilidade das transações colloridas.
Deputados e senadores, com exceções exíguas, outra
vez aceitaram bem o domínio e as práticas do collorismo. Associação, e em
muitos casos sujeição, bem ilustrada no silêncio de Aécio Neves e do PSDB,
capazes de pedir na Justiça a cassação do mandato presidencial com base em uma
frase de delação premiada, mas emudecidos quando a mais grave das acusações a
políticos cai sobre Eduardo Cunha.
Essa situação de Câmara e Senado não precisará
esperar a comprovação ou negação da culpa de Eduardo Cunha para receber efeitos
políticos importantes.
Tanto mais que ele sentiu o golpe. Sua resposta de
superioridade quando esteve na expectativa de uma visita policial
substituiu-se, em apenas 24 horas, por um jorro de agressões patéticas,
evidência de tombo e descontrole.
Eduardo Cunha não imaginaria, a sério, que o
governo dirija o procurador-geral da República, nem Rodrigo Janot obrigou
delator algum a difamar Eduardo Cunha. Nem o juiz Sergio Moro detém
indevidamente o inquérito em que Eduardo Cunha é acusado da extorsão de US$ 5
milhões.
O enfraquecimento de Eduardo Cunha é imediato,
embora parcial. Se a acusação não for eliminada no recesso parlamentar, a
iniciar-se amanhã, os projetos induzidos na Câmara por seu presidente já serão
recebidos, no Senado, sem a complacência interesseira ou temerosa dada a Cunha.
O PSDB, por exemplo, não será o mesmo da semana passada.
Citar Eduardo Cunha já é meia lembrança de Renan
Calheiros. O enfraquecimento de um alcança o outro.
Mas na Câmara é que a provável permanência da
acusação tem o maior campo de influência. Cunha adiou para agosto a votação
final de alguns projetos, convencido de que os deputados voltarão radicalizados
pelos eleitores.
Mas as aprovações obtidas por Eduardo o foram acima
de tudo por suas manobras e articulações. No caso de seu enfraquecimento, a
esperteza encontrará, no mínimo, um ambiente incerto.
Para completar, a situação de Eduardo Cunha é muito
mais complicada do que o enfrentamento a uma afirmação breve de delator bem
premiado. Ele o prova, descontrolado a ponto, por exemplo, de desmentir-se em
apenas horas. Mal acabara de repetir que passar à oposição -na qual, de fato,
sempre esteve- não influiria na conduta de presidente da Câmara, correu a
aprovar duas CPIs contra o governo.
Na porta do recesso. Desespero raivoso é isso aí.
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