Eu faria duas ressalvas às afirmações do entrevistado.
A primeira é que a tal estabilização econômica atribuída ao governo FHC foi, na
realidade, no governo Itamar Franco que tem todos os direitos e méritos – embora
este (FHC) tenha participado de sua elaboração – como costuma martelar certa
mídia que gosta de fazer de conta que o governo Itamar Franco/Plano Real não existiu.
A segunda é que esse quadro de ‘viralatismo nacional’
é fato, mas, não na dimensão que o entrevistado colocou: “o brasileiro”, já que
esta realidade mudou e vem mudando, significativamente desde o governo Lula,
haja vista os quatro mandatos que o PT já conseguiu nas últimas eleições. O ‘coxinismo’
e certa alienação informativo-eleitoral ainda é fato, mas, parcial e tendendo a
desaparecer, pelo menos entre a população, já que a elite não tem cura.
Outro ponto interessante a salientar, é a última
pergunta do entrevistador da Folha, que tem tudo a ver com a visão que, junto
com o JN/Globo, Estadão e Veja, tentam incutir nos corações e mentes do
brasileiro, pelo menos aquele que se presta a ouvir e ler sua ‘pregações’: "Mas
espera-se um aumento…"
Quantas vezes você já viu,
leu e ouviu esta sina – que tudo vai piorar – desta mídia em seu pessimismo
vendido?
Trechos da entrevista de Domenico de Masi à Folha:
Como mudar essa reestruturação da riqueza?
Pagando impostos – e impostos altos. Na verdade, a
maioria das 85 pessoas mais ricas do mundo é formada por ladrões de impostos.
Eles sonegam impostos e, quando pagam, o fazem na Holanda, onde são mais
baixos.
São pessoas que financiam campanhas eleitorais em
barganha por leis que os favoreçam. E isso alimenta o ciclo da desigualdade.
Trata-se de uma luta de classes às avessas?
É uma vendeta. O neoliberalismo da era Thatcher
inverteu as coisas: a luta de classes dos pobres contra os ricos se tornou a
luta dos ricos contra os pobres.
Isso ocorre no Brasil também. Os oito anos de
governo Fernando Henrique Cardoso adotaram uma política social-liberal,
estabilizaram a economia e iniciaram uma política social. Os oito anos de Lula
redistribuíram parte da riqueza que FHC criou, com uma política
social-democrata, que permitiu a muitos brasileiros ascenderem.
Hoje, Dilma é vítima de uma vingança neoliberal.
Aécio Neves (PSDB) perdeu as eleições, e o movimento neoliberal se voltou
contra Dilma, que não é pior que outros presidentes. A corrupção sempre existiu
no país.
O Brasil tem mil outros problemas para resolver… Há
um grande desencontro entre o Brasil real e o Brasil intelectual.
Que desencontro é esse?
O Brasil tem uma taxa de desemprego que é um terço
da italiana ou metade da norte-americana…
Mas espera-se um aumento…
No Brasil é assim: se algo vai mal, vai mal; se
algo vai bem, no futuro vai piorar (risos). Esse é um pensamento típico dos
brasileiros. Confrontadas com a realidade, essas ideias não param de pé.
Terminei uma pesquisa com 11 intelectuais
brasileiros sobre como estará o Brasil em 2025. Grande parte desses
intelectuais é pessimista.
O PIB brasileiro é o sétimo do mundo, à frente da
Itália e da Inglaterra. O Brasil está em quinto em produção industrial. Está em
terceiro lugar em acesso à internet, atrás dos EUA e da Suécia. Ou seja, o
Brasil ocupa posições de Primeiro Mundo, mas os brasileiros ainda se enxergam
como Terceiro Mundo.
Quando esses mesmos intelectuais foram confrontados
com dados reais, eles se mostram mais otimistas do que quando discutiram entre
si. Os brasileiros têm complexo de vira-lata. (diario do centro do mundo)
Trecho de entrevista com o sociólogo italiano Domenico De Mais à
Folha
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