domingo, 3 de maio de 2015

A luta de classes anda invertida por aqui. Agora são os ricos contra os pobres, diz Domenico de Masi


Eu faria duas ressalvas às afirmações do entrevistado. A primeira é que a tal estabilização econômica atribuída ao governo FHC foi, na realidade, no governo Itamar Franco que tem todos os direitos e méritos – embora este (FHC) tenha participado de sua elaboração – como costuma martelar certa mídia que gosta de fazer de conta que o governo Itamar Franco/Plano Real não existiu.

A segunda é que esse quadro de ‘viralatismo nacional’ é fato, mas, não na dimensão que o entrevistado colocou: “o brasileiro”, já que esta realidade mudou e vem mudando, significativamente desde o governo Lula, haja vista os quatro mandatos que o PT já conseguiu nas últimas eleições. O ‘coxinismo’ e certa alienação informativo-eleitoral ainda é fato, mas, parcial e tendendo a desaparecer, pelo menos entre a população, já que a elite não tem cura.

Outro ponto interessante a salientar, é a última pergunta do entrevistador da Folha, que tem tudo a ver com a visão que, junto com o JN/Globo, Estadão e Veja, tentam incutir nos corações e mentes do brasileiro, pelo menos aquele que se presta a ouvir e ler sua ‘pregações’: "Mas espera-se um aumento…"

Quantas vezes você já viu, leu e ouviu esta sina – que tudo vai piorar – desta mídia em seu pessimismo vendido?

Trechos da entrevista de Domenico de Masi à Folha:
Como mudar essa reestruturação da riqueza?
Pagando impostos – e impostos altos. Na verdade, a maioria das 85 pessoas mais ricas do mundo é formada por ladrões de impostos. Eles sonegam impostos e, quando pagam, o fazem na Holanda, onde são mais baixos.

São pessoas que financiam campanhas eleitorais em barganha por leis que os favoreçam. E isso alimenta o ciclo da desigualdade.
Trata-se de uma luta de classes às avessas?
É uma vendeta. O neoliberalismo da era Thatcher inverteu as coisas: a luta de classes dos pobres contra os ricos se tornou a luta dos ricos contra os pobres.
Isso ocorre no Brasil também. Os oito anos de governo Fernando Henrique Cardoso adotaram uma política social-liberal, estabilizaram a economia e iniciaram uma política social. Os oito anos de Lula redistribuíram parte da riqueza que FHC criou, com uma política social-democrata, que permitiu a muitos brasileiros ascenderem.

Hoje, Dilma é vítima de uma vingança neoliberal. Aécio Neves (PSDB) perdeu as eleições, e o movimento neoliberal se voltou contra Dilma, que não é pior que outros presidentes. A corrupção sempre existiu no país.

O Brasil tem mil outros problemas para resolver… Há um grande desencontro entre o Brasil real e o Brasil intelectual.
Que desencontro é esse?
O Brasil tem uma taxa de desemprego que é um terço da italiana ou metade da norte-americana…
Mas espera-se um aumento…
No Brasil é assim: se algo vai mal, vai mal; se algo vai bem, no futuro vai piorar (risos). Esse é um pensamento típico dos brasileiros. Confrontadas com a realidade, essas ideias não param de pé.

Terminei uma pesquisa com 11 intelectuais brasileiros sobre como estará o Brasil em 2025. Grande parte desses intelectuais é pessimista.

O PIB brasileiro é o sétimo do mundo, à frente da Itália e da Inglaterra. O Brasil está em quinto em produção industrial. Está em terceiro lugar em acesso à internet, atrás dos EUA e da Suécia. Ou seja, o Brasil ocupa posições de Primeiro Mundo, mas os brasileiros ainda se enxergam como Terceiro Mundo.

Quando esses mesmos intelectuais foram confrontados com dados reais, eles se mostram mais otimistas do que quando discutiram entre si. Os brasileiros têm complexo de vira-lata. (diario do centro do mundo)

Trecho de entrevista com o sociólogo italiano Domenico De Mais à Folha

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