Esta “efervescência
informativa” que rola hoje é graças à internet que, por mais que não queiram
ver ou admitir os ditos “coxinhas”, teve sua disseminação ou democratização de
acesso, graças ao governo Lula, o que coloca na ordem do dia e da vida de cada
um, como se diz, o que rola hoje, agora. Logo, quem viveu e conviveu com os períodos
anteriores, notadamente o grande buraco negro criado hoje pela mídia, os 8 anos
do (des)governo FHC, e não tinha o hábito de ler a mídia impressa, mesmo que imprecisa
e tendenciosa, por sinal, acha que o Brasil – com tudo de ruim, sobretudo, foi
inventado à partir do governo Lula, dai tanta ignorância, imbecilidade e virulência
que se vê aos montes por aí.
Neste texto
o empresário Ricardo Semler, que se autodefine como tucano,
dá um recado para os apressadinhos e desinformados que pegam qualquer clichê ou
frase feita por ai para sair detonando o governo, no caso o da Dilma.
sexta-feira, 26 de dezembro de 2014
Nunca se roubou tão pouco. E quem diz é um tucano de carteirinha
"Nunca
se roubou tão pouco
POR RICARDO SEMLER
Não sendo petista, e sim tucano, sinto-me à vontade
para constatar que essa onda de prisões de executivos é um passo histórico para
este país.
Nossa empresa deixou de vender equipamentos para a
Petrobras nos anos 70. Era impossível vender diretamente sem propina. Tentamos
de novo nos anos 80, 90 e até recentemente. Em 40 anos de persistentes
tentativas, nada feito.
Não há no mundo dos negócios quem não saiba disso.
Nem qualquer um dos 86 mil honrados funcionários que nada ganham com a
bandalheira da cúpula.
Os porcentuais caíram, foi só isso que mudou. Até
em Paris sabia-se dos “cochons des dix pour cent”, os porquinhos que cobravam
10% por fora sobre a totalidade de importação de barris de petróleo em décadas
passadas.
Agora tem gente fazendo passeata pela volta dos
militares ao poder e uma elite escandalizada com os desvios na Petrobras. Santa
hipocrisia. Onde estavam os envergonhados do país nas décadas em que houve
evasão de R$ 1 trilhão –cem vezes mais do que o caso Petrobras– pelos
empresários?
Virou moda fugir disso tudo para Miami, mas é
justamente a turma de Miami que compra lá com dinheiro sonegado daqui. Que
fingimento é esse?
Vejo as pessoas vociferarem contra os nordestinos
que garantiram a vitória da presidente Dilma Rousseff. Garantir renda para quem
sempre foi preterido no desenvolvimento deveria ser motivo de princípio e de
orgulho para um bom brasileiro. Tanto faz o partido.
Não sendo petista, e sim tucano, com ficha
orgulhosamente assinada por Franco Montoro, Mário Covas, José Serra e FHC,
sinto-me à vontade para constatar que essa onda de prisões de executivos é um
passo histórico para este país.
É ingênuo quem acha que poderia ter acontecido com
qualquer presidente. Com bandalheiras vastamente maiores, nunca a Polícia
Federal teria tido autonomia para prender corruptos cujos tentáculos levam ao
próprio governo.
Votei pelo fim de um longo ciclo do PT, porque
Dilma e o partido dela enfiaram os pés pelas mãos em termos de postura, aceite
do sistema corrupto e políticas econômicas.
Mas Dilma agora lidera a todos nós, e preside o
país num momento de muito orgulho e esperança. Deixemos de ser hipócritas e
reconheçamos que estamos a andar à frente, e velozmente, neste quesito.
A coisa não para na Petrobras. Há dezenas de outras
estatais com esqueletos parecidos no armário. É raro ganhar uma concessão ou
construir uma estrada sem os tentáculos sórdidos das empresas bandidas.
O que muitos não sabem é que é igualmente difícil
vender para muitas montadoras e incontáveis multinacionais sem antes dar
propina para o diretor de compras.
É lógico que a defesa desses executivos presos vão
entrar novamente com habeas corpus, vários deles serão soltos, mas o susto e o
passo à frente está dado. Daqui não se volta atrás como país.
A turma global que monitora a corrupção estima que
0,8% do PIB brasileiro é roubado. Esse número já foi de 3,1%, e estimam ter
sido na casa de 5% há poucas décadas. O roubo está caindo, mas como a represa
da Cantareira, em São Paulo, está a desnudar o volume barrento.
Boa parte sempre foi gasta com os partidos que se
alugam por dinheiro vivo, e votos que são comprados no Congresso há décadas. E
são os grandes partidos que os brasileiros reconduzem desde sempre.
Cada um de nós tem um dedão na lama. Afinal, quem
de nós não aceitou um pagamento sem recibo para médico, deu uma cervejinha para
um guarda ou passou escritura de casa por um valor menor?
Deixemos de cinismo. O antídoto contra esse veneno
sistêmico é homeopático. Deixemos instalar o processo de cura, que é do país, e
não de um partido.
O lodo desse veneno pode ser diluído, sim, com
muita determinação e serenidade, e sem arroubos de vergonha ou repugnância
cínicas. Não sejamos o volume morto, não permitamos que o barro triunfe
novamente. Ninguém precisa ser alertado, cada de nós sabe o que precisa fazer
em vez de resmungar.
RICARDO SEMLER, 55, empresário, é sócio da Semco Partners.
Foi professor visitante da Harvard Law School e professor de MBA no MIT –
Instituto de Tecnologia de Massachusetts (EUA)
No blog do Juca Kfouri - Folha
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Nunca se roubou tão pouco. E quem diz é um tucano de carteirinha
Publié par Paulo Athayde à 08:00
Libellés : Comportamento, CoraçõeseMentes, Corrupção, CuidandodoVoto, Direitos, Eleições, FazendoPolítica, Midia, Segurança
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