A criação, e sucesso incontestável, das redes sociais veem ao encontro desta “necessidade
do sistema” de garantir o controle da população, pois, o que antes era feito de
forma mais complicada, diríamos assim, hoje é tranquila e ‘doada’ espontaneamente
pelos cidadãos/usuários que não têm a mínima ideia do que fazem, ou do que é feito
com a informação que franqueia.
O saldo mínimo seria funcionar como subsídios para
fundamentar a “necessidade” de cortes das liberdades civis.
“O panoptismo de estar constantemente conectado às redes sociais
O panoptismo de estar
constantemente conectado às redes sociais. Entevista especial com Olaya
Fernández Guerrero
O panoptismo de estar
constantemente conectado às redes sociais. Entevista especial com Olaya
Fernández Guerrero
A noção
de panoptismo, discutida por Foucault há
40 anos, “permite compreender muitas das situações que vivemos atualmente em
nossas sociedades, nas quais, sob o pretexto da segurança global,
intensificaram-se as medidas
de vigilância e controle que se aplicam sem exceção a toda a
população e que, às vezes, implicam um corte preocupante das liberdades civis”,
diz a filósofa Olaya Fernández Guerrero à IHU On-Line, na
entrevista a seguir, concedida por e-mail.
Segundo Olaya, as novas tecnologias da informação e
comunicação têm reforçado “essa visibilidade constante e permanente que
tem muito de panóptico”. Nas sociedades atuais, pontua, é possível
identificar duas modalidades de panoptismo.
A primeira é baseada
na vigilância à qual todos os cidadãos estão submetidos
pelo poder político. A segunda, explica, é mais “sutil” e aceita pelas
pessoas, e “se explicita na pulsão de estar constantemente conectados às redes sociais,
compartilhando fotos e informações sobre o que estamos fazendo em cada momento.
Este tipo de panoptismoacaba sendo muito poderoso e às vezes acaba gerando
nos indivíduos um comportamento viciante e uma dependência das redes sociais
que é preocupante, particularmente entre
a população mais jovem; por essa razão, é urgente desenvolver uma
visão crítica em relação a esse outro panoptismo que está invadindo
as nossas vidas”, defende.
Olaya Fernández Guerrero é doutora em
Filosofia e professora na Universidade de La Rioja, na Espanha. Recentemente
ela esteve no Instituto Humanitas Unisinos – IHU, proferindo a
palestra O Poder e o panoptismo da cidadania em Michel Foucault. A íntegra da conferência pode ser vista aqui.
Confira a entrevista.
IHU On-Line -
Em que sentido a ideia de panoptismo, desenvolvida por Foucault, explica as
relações de poder, controle e vigilância nas sociedades atuais? Como essa ideia
ajuda a entender o nosso tempo?
Olaya Fernández Guerrero - A noção de panoptismo, que
aparece nos textos que Foucault escreveu há
40 anos, permite compreender muitas das situações que vivemos atualmente em
nossas sociedades, nas quais, sob o pretexto da segurança global,
intensificaram-se as medidas de vigilância e controle que
se aplicam sem exceção a toda a população e que, às vezes, implicam um corte
preocupante das liberdades civis.
IHU On-Line -
Quais diria que são os exemplos concretos da manifestação do panoptismo nas sociedades
atuais?
Olaya Fernández Guerrero - Atualmente, encontramos muitos
elementos que estão estreitamente vinculados ao olhar vigilante e hierárquico,
o que é uma das principais características do panoptismo. A instalação de
câmeras de segurança em espaços públicos, o controle das comunicações através
da internet ou a moda de fazer ‘selfies’ e compartilhar essas fotografias
nas redes sociais são alguns exemplos que ilustram
esse panoptismo contemporâneo.
IHU On-Line -
Por que na nossa época o panoptismo é ainda mais forte e evidente do que na de
Foucault?
Olaya Fernández Guerrero - As causas da ascensão
do panoptismo são muito diversas. Entretanto, um dos fatores que mais
contribuíram para essa mudança são as novas tecnologias da informação e
comunicação, que têm uma presença crescente na vida cotidiana dos indivíduos e
que reforçam essa visibilidade constante e permanente que tem muito
de panóptico.
IHU On-Line - Como essa ideia de
panoptismo cria uma nova concepção de sujeito?
Olaya Fernández Guerrero - Os diversos dispositivos
panópticos acabam fazendo parte dos processos de criação de subjetividades
e transformam-se, além disso, em elementos mediadores das nossas relações
sociais e interpessoais. O próprio Foucault já escreveu sobre esta
questão, identificando a sociedade contemporânea como uma sociedade disciplinar
na qual o dispositivo panóptico cumpre um papel muito importante, uma
vez que submete os indivíduos a uma vigilância total e invasivaque
acaba produzindo uma interiorização das normas e uma ampla adaptação aos
padrões de conduta que a sociedade estabelece para regular cada aspecto de
nossas vidas.
IHU On-Line -
Como a categoria de povo se relaciona com essa ideia de panoptismo?
Olaya Fernández Guerrero - No contexto do panoptismo,
o povo, ou melhor, a cidadania, perde parte da sua autonomia e liberdade de
ação e transforma-se em uma coletividade administrada e vigiada, submetida a um
regime de visibilidade em que todos, e cada um dos indivíduos, estão sujeitos à
supervisão e são colocados sob suspeita.
IHU On-Line -
Como a senhora compreende, de um lado, a crítica ao panoptismo e, de outro, o
uso que as pessoas fazem, por exemplo, de espaços de vigilância como o
Facebook?
Olaya Fernández Guerrero - Existem pelo menos dois tipos,
duas modalidades, de panoptismo: uma delas é o panoptismo baseado
na vigilância e no controle a que estão submetidos todos os
indivíduos pelos poderes políticos, pelas forças de segurança etc., e que é
difícil contornar. Este panoptismo é mais fácil de identificar e
muitas pessoas adotam uma postura crítica em relação a ele.
Mas, nas sociedades atuais, surgiu também outra forma de
panoptismo mais sutil, ao qual muitos indivíduos aceitam (aceitamos) se
submeter voluntariamente, e que se explicita na pulsão de estar constantemente
conectados às redes sociais,
compartilhando fotos e informações sobre o que estamos fazendo em cada momento.
Este tipo de panoptismo acaba sendo muito poderoso e às vezes
acaba gerando nos indivíduos um comportamento viciante e uma dependência
das redes sociais que é preocupante, particularmente entre a população
mais jovem; por essa razão, é urgente desenvolver uma visão crítica em relação
a esse outro panoptismo que está invadindo as nossas vidas.
IHU On-Line - O
que seria uma alternativa ou uma resistência ao modelo de controle, vigilância
e poder advinda da ideia de panoptismo? Como romper com esse modelo?
Olaya Fernández Guerrero - Para começar a propor opções de
resistência, a primeira coisa a se fazer é identificar quais são os dispositivos de controle e vigilância aos
quais estamos submetidos, e a partir daí desenvolver uma perspectiva crítica e
refletir sobre as maneiras mais efetivas para contornar aqueles modos de
controle e vigilância que nos pareçam mais negativos. Na minha opinião, o
mais adequado é realizar práticas de resistência de caráter concreto e
contextualizado, que devem ser desenvolvidas no âmbito das atividades
cotidianas de cada indivíduo.
IHU On-Line -
Quais são os exemplos de resistência ao panoptismo hoje?
Olaya Fernández Guerrero - Em relação
ao panoptismo ao qual somos submetidos pelos poderes públicos,
penso que é importante continuar a questionar o discurso da segurança global,
uma vez que em muitos casos este é utilizado como justificativa para cortar as
liberdades civis e aplicar modelos de vigilância que são inaceitáveis do ponto
de vista ético. Também é preciso fazer um uso mais responsável das redes
sociais e, desse modo, evitar contribuir para esse panoptismo
‘voluntário’, ao qual acabamos cedendo cada vez que compartilhamos imagens e
informações pessoais nas redes sociais, e que contribui para essa ‘visibilidade
total’ e nos coloca em uma situação de vulnerabilidade e de constante
escrutínio e sujeição ao olhar alheio.
Por Patricia Fachin
No IHU Online
Se
gostou deste post subscreva o nosso RSS Feed
ou siga-nos no Twitter para
acompanhar nossas atualizações
*
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Olá!
Bem vindo, a sua opinião é muito importante.