Dar uma olhada neste artigo abaixo ‘serve’ para
refletirmos um pouco sobre esta ‘onda’ que nos ‘tomou’, que nos acometeu a
todos, de uso diário e, praticamente, ininterrupto dos celulares/smartfones
e redes sociais, que vêem se tornando rapidamente uma ‘grande’ janela
para o mundo, pois tem gente que não desgruda o olho “dalí...”.
Pode ter “algum efeito pratico”. Como o de repensarmos,
entre aspas, um pouco de nosso jeito de nos relacionarmos/usarmos tudo isso, já
que, provavelmente, outros setores e pontos importantes de nossa vida podem estar
sendo negligenciados, como – quem sabe – perda de significa e qualidade de
vida.
"O EGO chegou para ficar, de vez! Que o ‘digam’ as redes sociais
Por
que as pessoas usam o celular e redes sociais de forma excessiva?
Falar de si mesmo
gera prazer. Nas conversas normais uma pessoa usa em torno de 30% do tempo para
falar de si próprio. Nas redes sociais este indicador sobe para 90%, com
possibilidade de um feedback instantâneo, pois muitas pessoas curtem ou
comentam a foto ou a mensagem publicada.
Não
faz muito tempo, para falar com alguém precisaríamos ligar para o telefone fixo
da pessoa. Conhecíamos as vozes dos pais, irmãos, filhos, marido ou esposa.
Tínhamos uma certa disciplina e normas de etiqueta social, pois telefonar muito
tarde para a casa de alguém significaria, possivelmente, acordar a sua família
inteira. Tínhamos também um certo planejamento, pois marcar um encontro no
final de semana exigia pontualidade no horário e local previamente acordado.
O
mundo evolui. E evoluiu rápido, felizmente. O telefone fixo, que antes era
patrimônio declarado no imposto de renda, deixou de ser a estrela da casa. Cada
membro da família ganhou o seu telefone particular. Na verdade, mais do que
isso, receberam poderosos computadores de bolso que funcionam como tocadores de
músicas, despertador, e-mail, GPS, mensagens instantâneas, câmera fotográfica,
gravador, entre milhares de outras funções.
Sem
dúvida, não podemos negar os benefícios que o avanço das tecnologias de
informação e comunicação (TICS) produziram e produzem. Desde as tecnologias
mais antigas, como a pintura rupestre, o propósito original sempre foi otimizar
o tempo, encurtar distâncias ou nutrir as relações humanas. Através do Waze, você consegue escolher as
melhores rotas, fugir do trânsito e otimizar o seu tempo; com o WhatsApp, você compartilha momentos com
fotos e ‘emoticons’ enviados para a
sua esposa e filhos; e através das redes
sociais se comunica com pessoas distantes com quem não falaria normalmente
no dia a dia.
O
curioso é que estas mesmas tecnologias que aproximam pessoas distantes, se mal
utilizadas, também distanciam pessoas próximas, prejudicam o tempo e servem
como gatilho de problemas relacionais. Na verdade, o problema não é a
tecnologia em si, ou o tempo que você dedica, mas sim o uso abusivo e a forma
com que se relaciona com a tecnologia. A esposa que briga com o marido pela
mensagem que foi lida, mas não foi respondida naquele mesmo instante; a família
que mal conversa entre si durante os almoços de domingo, pois cada um prefere ficar
mergulhado no mundo particular de seus dispositivos e apps; e as horas de sono perdidas em navegações intermináveis,
madrugada adentro, no mural do Facebook.
O
mundo das tecnologias é mesmo muito convidativo, benéfico e transformador, mas
pode se tornar um universo raso, de muitas interações e pouca profundidade e, também,
palco de fuga ou idealizações.
Assim
como aconteceu com a chegada do jornal, o rádio e a televisão, a internet está
atualmente transformando os hábitos da sociedade. Em paralelo à vida real há
uma sociedade virtual, movida por meio das novas tecnologias. Em função disso,
as pessoas também estão vivendo vidas paralelas: uma real e uma virtual.
Através da internet, elas adicionam novos amigos, namoram, compram, trabalham,
ganham dinheiro, pesquisam, estudam, escrevem mensagens no lugar de bilhetes ou
cartas. O problema é que muitos agem como se tivessem de fato duas
personalidades, o que na verdade é uma ilusão. A vida virtual é uma extensão da
vida real e não um substituto ou uma alternativa.
O
mecanismo do prazer, vivenciado através de redes sociais, estimula uma
determinada área do cérebro conhecida como córtex cerebral e ativa um sistema
de recompensa equivalente a se alimentar, dormir, praticar sexo, ganhar
dinheiro etc. O uso abusivo destas tecnologias ativa o mesmo sistema
neurobiológico, estimulado no consumo de álcool e drogas, liberando no corpo
substâncias como a dopamina, que geram uma sensação de prazer. Entretanto, na
prática, o usuário abusivo começa a, lentamente, substituir as relações na vida
real pelo mundo virtual e passa a ter um comportamento repetitivo em busca das
mesmas sensações de prazer vivenciadas anteriormente.
Em
outras palavras: falar de si mesmo gera prazer. Nas conversas normais uma
pessoa usa em torno de 30% do tempo para falar de si próprio. Nas redes sociais
este indicador sobe para 90%, com possibilidade de um feedback instantâneo, pois muitas pessoas curtem ou comentam a foto
ou a mensagem publicada. Entretanto, pesquisas indicam que mais da metade dos usuários
ativos de redes sociais se consideram mais infelizes do que os seus amigos
virtuais, pois substituem as relações na vida real pelo mundo virtual e vivem
uma história editada, que não conseguem sustentar no dia a dia. No Facebook e Instagram, não existe crise financeira nem problemas conjugais,
todos têm dinheiro, o emprego dos sonhos, o casamento perfeito, viagens
maravilhosas etc.
Vivemos
realmente tempos barulhentos. Nossa cultura ensina que é preciso produzir
sempre mais como indicador de sucesso ou felicidade. Dentro deste contexto,
precisamos postar e compartilhar numa tentativa de gritar ao mundo o desejo de
pertencimento e alimentar a satisfação do próprio ego. Nos casos mais graves,
as redes sociais passam a ser um palco sombrio de fuga ou idealização, em uma
peça de teatro inventada, mas que sempre terá plateia cheia.
Por Eduardo Guedes*, em Adital
*membro do Instituto Delete, pesquisador do Instituto de
Psiquiatria da UFRJ e especialista sobre o impacto das redes sociais no
comportamento humano.
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