Este artigo é bem oportuno,
pois nos remete há um pouco de nossa História de tão triste memória, que o Bolsonaro insiste em afirmar que vai reproduzir, ou
melhor retroagir há 50 anos atrás e criar, entre aspas, o Brasil que quer, que
deseja em sua insanidade, que além disso e bem lúcida quando também pensa em colocar
o país à serviço de interesses estrangeiros, sobretudo dos EUA.
Não, não é intriga, não
é a famosa fake news – que ele tão bem
usa e abusa no WhatsApp – ele disse em alto e bom som mais de um vez para quem
quis ouvir, já que confia cegamente na cegueira política e até, mesmo irracionalidade,
de seu eleitorado, que parece cativo em marchar com ele rumo ao desastre político e econômico,
o que de resto sobraria para todos nós, é claro!
"Bolsonaro quer o Brasil de 50 anos atrás. Isso seria um desastre
É fácil e claro saber o que o candidato Jair Bolsonaro é contra. O Brasil que o
deputado quer, porém, é bem mais turvo. O seu plano de governo é simplista e
Bolsonaro contradiz propostas de aliados constantemente – isso quando elas vão
além dos clichês e palavras de ordem. A única chance de entender quais são nas
raras entrevistas e em seus monólogos transmitidos no Facebook.
Ontem, Bolsonaro falou o seguinte a
uma rádio AM de Barretos, interior de São Paulo: “nós queremos um Brasil
semelhante àquele que tínhamos há 40, 50 anos atrás. Pode ter certeza que
juntos chegaremos lá.”
Voltando o meio século proposto por Bolsonaro,
caímos em 1967 – no começo da ditadura militar, um ano antes do AI-5. Não
há novidades na defesa de posições retrógradas por Bolsonaro – e muito menos da
ditadura. O candidato já deixou muito claro seu apreço pelo regime totalitário
e por práticas como a tortura, por exemplo.
Mas a defesa explícita do Brasil de 1967 chama a
atenção porque o Brasil de 50 anos atrás era pior. É difícil saber o que
Bolsonaro quer resgatar daquele Brasil, e talvez nem o próprio saiba
exatamente.
Brasil melhorou em diversos aspectos. É inegável que o nosso arremedo de
social-democracia, consolidado a duras penas em 1988, trouxe avanços
consideráveis em pontos como saúde e educação. Para ajudar a refrescar a
memória – e deixar claro o quanto a democracia tornou o Brasil um lugar melhor
para se viver – resolvemos relembrar como era o Brasil de 50 anos atrás.
1.
O atendimento à saúde era ruim e restrito
Ainda não havia o Sistema Único de Saúde, o SUS.
Foi só em 1988 que o Brasil deu a todos o direito de um atendimento gratuito de
saúde – ainda que muitas vezes ele deixe a desejar.
Antes disso, a maioria da população não tinha
acesso a qualquer tipo de serviço. A cobertura de saúde era garantida apenas à
parcela da população empregada formalmente, que era contribuinte da
Previdência.
Os principais índices de saúde melhoraram
constantemente nos últimos 50 anos. A mortalidade infantil despencou de 124
para 14 mortes a cada mil nascimentos. Enquanto isso, a expectativa de vida
aumentou de 46 para 76 anos.
O candidato pretende manter os gastos em saúde
pública como estão, ainda que a população aumente. Ainda antes da campanha, o
candidato falou: “não adianta um pré-candidato dizer por aí: ‘a, eu vou
aumentar o recursos para o SUS. Não é por aí”.
2.
Mais de um terço da população era analfabeta
Ninguém em sã consciência defenderia a qualidade da
educação pública brasileira, especialmente da mais básica. Mas, em comparação
com o seu passado, o Brasil deu um salto que teve consequências brutais na vida
de dezenas de milhões de brasileiros.
Há cinquenta anos, mais de um terço da população
brasileira com mais de quinze anos era analfabeta – 39,7% em 1960. Hoje, 7% da
população com mais de quinze anos não sabe ler e escrever.
As propostas para a área tem se resumido a uma
valorização do ensino a distância, inclusive para o fundamental (crianças a
partir de 11 anos). Mas nesse ponto, o seu vice, General Mourão, já deixou
claro que pretende
retomar as aulas “patrióticas” da época da ditadura – aulas de
educação moral e cívica e organização social e política brasileira.
3.
O trabalhador rural não tinha previdência
O trabalhador rural era um cidadão de segunda
classe. Não tinha planos de aposentadoria e, na prática, qualquer direito
trabalhista. Sem registro e organização formal, a situação deles há 50 anos
lembrava mais o século 19 do que o 20.
Com o Estatuto do Trabalhador Rural, em 1963, o
país tentou levar os direitos trabalhistas ao trabalhador do campo. Mas
fracassou, e o estatuto foi letra morta. Os trabalhadores rurais só tiveram
direito à Previdência com a criação do Funrural, em 1971.
Uma das medidas mais bem sucedidas para a redução
da pobreza que o país já teve, a previdência rural agora está em risco – a
reforma de Temer, por exemplo, acabava com seu caráter redistributivo.
Bolsonaro ainda não deixou claro se deve ou não manter essa política.
4.
Empregadas domésticas não tinham direitos
Há meio século, empregadas domésticas e autônomos
estavam excluídos da Previdência. Eles só foram incorporados no começo dos anos
1970. Foi o general Médici, o mais linha dura da ditadura, o responsável pela
medida.
Na prática, as empregadas domésticas não eram
formalizadas, e ficaram sem direitos até a promulgação da PEC das Domésticas,
que finalmente obrigou a formalização delas. Bolsonaro já se orgulhou de ser o
único a votar
contra essa proposta.
5.
Somente dois partidos eram permitidos
Acuado por derrotas eleitorais em diversos estados,
os militares acabaram com todos os partidos do país há cinquenta e dois anos.
No dia 27 de outubro de 1965, o sistema partidário que vigorava desde a década
de 1940 foi substituído por um novo onde só cabiam dois: a Arena, partido dos
militares, e o MDB, onde estava a oposição consentida.
Se hoje nosso problema é que temos mais de trinta
partidos, pior seria como estávamos há cinquenta anos. O próprio Bolsonaro já
passou por nove partidos, e tomou proveito dessa situação ao se filiar a um
partido nanico somente para se candidatar à Presidência.
Pierro Locatelli em The Intercept.
Pierro Locatelli em The Intercept.
Se gostou deste post subscreva o nosso RSS Feed ou
siga-nos no Twitter para
acompanhar nossas atualizações
*
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Olá!
Bem vindo, a sua opinião é muito importante.