quinta-feira, 11 de outubro de 2018

A falsa polaridade enfatizada pela mídia endossa o projeto fascista

Uma ‘coisa’ que tem ficado patente nestes tempos eleitorais bicudos é a falsa postura de certa mídia – pra variar – que a título de jornalismo e de apreço pela democracia, vem repetindo clichês que de forma subliminar, diríamos assim, vem induzindo o eleitor ao velho trilho de sempre da direita. Só que neste caso, endossando um projeto com o que de pior foi feito ou criado no gênero, o velho e manjado fascismo de tão lamentável memória mundo afora.

Um bom indício é aquele que insiste em falar em polaridade, em extremos, em pontos antagônicos, ao se referirem aos dois candidatos, o Haddad e o Bolsonaro, como se, de alguma maneira, equivalentes e em franca negação do principio democrático simples, embora com “sinal trocado”.

Confira neste artigo do Jânio de Freitas:

Um ou outro. Assim é a atual eleição presidencial. Nenhum eleitor, absolutamente nenhum, ainda que se abstenha por ausência ou voto omisso, deixará de contribuir para a eleição de um ou de outro. Mas, se a decisão eleitoral se faz entre dois nomes, na verdade, o eleitor fará outra opção. Vai escolher entre democracia e autoritarismo.

Não há neutralidade diante desta bifurcação. A decisão do PSDB e do DEM (chama-se Democratas, veja só) de não apoiar Jair Bolsonaro (PSL) nem Fernando Haddad (PT) parece fuga à responsabilidade, a sua tradicional subida no muro. 

É, no entanto, apoio a Bolsonaro e ao que ele representa, já que o beneficiam todas as opções que não sejam de apoio explícito a Haddad, carente de votos. Os pilatos envergonhados recorrem ao ardil apenas verbal da neutralidade.

Descendente direto da ditadura, o DEM mudou de nome sem mudar de natureza. O PSDB fez o inverso.

Traído por vários de seus líderes, renegou as origens e os compromissos promissores, e se tornou o líder da direita até ver-se agora desbancado por um partido nanico. A escolha mal disfarçada dos peessedebistas por Bolsonaro e pelo autoritarismo pode ser coerente, mas é vergonhosa.

Os dois puxadores de tal posição não precisariam mais do que respeitar sua história remota. Nela se conta que Fernando Henrique e José Serra se sentiram ameaçados pela ditadura militar a ponto de buscar refúgio no exterior.

O primeiro teve vida mansa por lá, mas o outro passou por riscos e dificuldades superados só pela sorte.

Hoje, é a defensores nostálgicos da força que os perseguiu, enquanto impunha no país a tortura, a morte, a censura, o atraso, que Fernando Henrique e José Serra dão a ajuda capaz de ser decisiva. É demais.

Haddad e Bolsonaro não se equivalem, nem o PT e a corrente política bolsonarista são a mesma moeda, como muitos têm dito e escrito.

A respeito, Hélio Schwartsman já foi claro: “Bolsonaro já deu inúmeras declarações que escancaram seu descompromisso para com a democracia e os direitos humanos. Não é absurdo, portanto, imaginar que, uma vez alçado ao poder, ele dê início a uma escalada autoritária” // “Quanto a Haddad e o PT, se o passado vale alguma coisa, eles já foram aprovados no teste da democracia. O partido teve uma presidente destituída e seu líder máximo preso e em nenhum momento deixou de acatar as regras”.

Os defeitos de Bolsonaro que nos interessam, muitos, não são vistos em Haddad. As qualidades de Haddad, como pessoa e como homem público, nunca foram vistas em Bolsonaro nos seus 27 anos de político. Sem falar no seu tempo de perturbador dos quartéis. Tratar os dois como equivalentes não é apenas injusto, é também falso. E não é de boa-fé.

A democracia não é defendida com posição passiva nem, muito menos, com enganosa neutralidade. Defendê-la, pelos meios disponíveis, não é comprometer-se senão com a própria democracia. Não a defender, é traição ao presente do país e às gerações que nele ainda despontam.

Janio de Freitas

Jornalista e membro do Conselho Editorial da Folha.

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