domingo, 2 de abril de 2017

Paradoxo da satisfação ou como cada classe percebe a qualidade de vida. Na base do golpe contra a democracia

Como o conceito de “classe media” parece ser muito relativo, a referência para avaliação/satisfação é feita imediatamente nos seguimentos logo abaixo, gerando a insatisfação pela perda relativa de posição, gerada pela melhoria da qualidade de vida de amplos setores “mais abaixo” desde 2003 com os governos ditos petistas.

Isso ajuda a explicar o pobre de direita, entre aspas, – que, também faria parte destes setores beneficiados – que foi às ruas contra o governo Dilma/PT e, ainda, continua ‘pensando’ como antes, quando atribui as mazelas do governo interino ao período Dilma, fazendo coro com o discurso engajado veiculado pela mídia associada.

Logo, a situação analisada no texto abaixo ajuda a explicar o paradoxo da “base popular” usado pelos autores do golpe, com o apoio inestimável da mídia de sempre.
Paradoxo da satisfação mostra como cada classe percebe a qualidade de vida
Satisfação com padrão de vida depende do estrato a que cada um pertence; para os mais carentes, a elevação absoluta promove o bem-estar; já para o topo da sociedade, o que conta é a posição relativa.
Habitação popular do Minha Casa, Minha Vida -garantia de mais qualidade de vida para estratos de menor renda
Ainda que fundamental, a simples ampliação do padrão de riqueza material está longe de satisfazer o conjunto dos indivíduos em cada país. Estudos comprovam que para segmentos pertencentes à base da sociedade, a elevação absoluta do nível de vida se apresenta geralmente suficiente para fazer crescer o grau de satisfação dos indivíduos.

O mesmo movimento, contudo, não parece ser suficiente para elevar o grau de satisfação individual dos que se encontram nos estratos de maior renda na sociedade. Isto porque o aumento absoluto do padrão de vida dos indivíduos de classe média e ricos não resulta necessariamente capaz de influenciar a satisfação das pessoas.

Nesse caso, a satisfação individual sustenta-se mais na elevação relativa do nível de vida do que na simples ampliação absoluta de bem-estar, ou seja, a melhora do padrão de vida material pessoal relacionada ao que ocorre em relação aos outros indivíduos no interior da sociedade.

Assim, o movimento de elevação no nível individual de vida está comparado ao que acontece em relação aos pares, se superior, maior tende a ser o grau de satisfação pessoal. O fato da melhora no padrão de vida individual de ricos e classe média ocorrer em patamar inferior à evolução do conjunto da sociedade pode se mostrar suficiente para desencadear insatisfações.

Por um lado, a ampliação do padrão de vida material na sociedade que produza a redução da desigualdade pressupõe que os segmentos de menor rendimento ascendam mais rapidamente do que os demais indivíduos. Isso pode produzir, em geral, grau de maior satisfação concentrada nos indivíduos de baixa renda, uma vez que entre os segmentos de maior poder aquisitivo pode crescer, em contrapartida, a insatisfação frente à constatação de que o seu padrão relativo de vida cresceu menos que o dos mais pobres.

Por outro lado, a alta no nível de vida material no interior da sociedade que gera aumento na desigualdade tende a satisfazer os estratos de maior renda, cujo padrão de vida cresce mais rápido que o dos pobres. Nesta situação, a insatisfação não se apresenta necessariamente entre os pobres.

Esse paradoxo da satisfação talvez possa lançar luzes sobre a situação diferenciada de desconforto que se verifica em determinados segmentos de maior renda no Brasil, relacionado às políticas exitosas de inclusão implementadas desde 2003. De maneira geral, as eleições realizadas nos anos 2000 terminaram expressando cada vez mais a distinção de satisfação conforme as dimensões territoriais e socioeconômicas do voto.

Estados e indivíduos mais ricos, por exemplo, tenderam a se apresentar crescentemente insatisfeitos com as políticas de elevação do nível de vida material de todos, sobretudo, para os segmentos de menor rendimento. Sem a melhora do padrão individual de vida relativo ao conjunto da população do país, especialmente mais rápida na base da pirâmide social, a desigualdade que se reduz pode produzir não somente satisfações mais também desconfortos e desaprovação.

No Brasil do começo do século 21, a elevação do padrão de vida material ocorre generalizadamente entre todos os indivíduos. Como a melhora se deu mais concentrada entre os mais pobres, a desigualdade no País se tornou menor, gerando diferentes graus de satisfação e insatisfação no interior da população.
Em resumo, a luta contra as desigualdades não conta com o apoio de todos.

Depende dos segmentos aos quais o indivíduo pertença, bem como a trajetória absoluta e relativa do crescimento do padrão de vida dos indivíduos. Sem esta constatação prévia, dificilmente se conseguirá entender o impasse a que o Brasil se encontra atualmente diante do paradoxo da satisfação.


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