Como
o conceito de “classe media” parece ser muito relativo, a referência para
avaliação/satisfação é feita imediatamente nos seguimentos logo abaixo, gerando
a insatisfação pela perda relativa de posição, gerada pela melhoria da qualidade de vida de amplos setores “mais abaixo” desde
2003 com os governos ditos petistas.
Isso
ajuda a explicar o pobre de direita,
entre aspas, – que, também faria parte destes setores beneficiados – que foi às
ruas contra o governo Dilma/PT e, ainda, continua ‘pensando’ como antes, quando
atribui as mazelas do governo interino ao período Dilma, fazendo coro com o discurso
engajado veiculado pela mídia associada.
Logo,
a situação analisada no texto abaixo ajuda a explicar o paradoxo da “base
popular” usado pelos autores do golpe,
com o apoio inestimável da mídia de
sempre.
“Paradoxo da satisfação mostra como cada classe percebe a qualidade de vida
Satisfação com padrão
de vida depende do estrato a que cada um pertence; para os mais carentes, a
elevação absoluta promove o bem-estar; já para o topo da sociedade, o que conta
é a posição relativa.
Habitação popular do Minha Casa, Minha Vida -garantia de mais qualidade de vida para estratos de menor renda |
Ainda que fundamental, a simples ampliação do
padrão de riqueza material está longe de satisfazer o conjunto dos indivíduos
em cada país. Estudos comprovam que para segmentos pertencentes à base da
sociedade, a elevação absoluta do nível de vida se apresenta geralmente
suficiente para fazer crescer o grau de satisfação dos indivíduos.
O mesmo movimento, contudo, não parece ser
suficiente para elevar o grau de satisfação individual dos que se encontram nos
estratos de maior renda na sociedade. Isto porque o aumento absoluto do padrão
de vida dos indivíduos de classe média e ricos não resulta necessariamente
capaz de influenciar a satisfação das pessoas.
Nesse caso, a satisfação individual sustenta-se
mais na elevação relativa do nível de vida do que na simples ampliação absoluta
de bem-estar, ou seja, a melhora do padrão de vida material pessoal relacionada
ao que ocorre em relação aos outros indivíduos no interior da sociedade.
Assim, o movimento de elevação no nível individual
de vida está comparado ao que acontece em relação aos pares, se superior, maior
tende a ser o grau de satisfação pessoal. O fato da melhora no padrão de vida
individual de ricos e classe média ocorrer em patamar inferior à evolução do
conjunto da sociedade pode se mostrar suficiente para desencadear
insatisfações.
Por um lado, a ampliação do padrão de vida
material na sociedade que produza a redução da desigualdade pressupõe que os
segmentos de menor rendimento ascendam mais rapidamente do que os demais indivíduos.
Isso pode produzir, em geral, grau de maior satisfação concentrada nos
indivíduos de baixa renda, uma vez que entre os segmentos de maior poder
aquisitivo pode crescer, em contrapartida, a insatisfação frente à constatação
de que o seu padrão relativo de vida cresceu menos que o dos mais pobres.
Por outro lado, a alta no nível de vida material
no interior da sociedade que gera aumento na desigualdade tende a satisfazer os
estratos de maior renda, cujo padrão de vida cresce mais rápido que o dos pobres.
Nesta situação, a insatisfação não se apresenta necessariamente entre os
pobres.
Esse paradoxo da satisfação talvez possa lançar
luzes sobre a situação diferenciada de desconforto que se verifica em
determinados segmentos de maior renda no Brasil, relacionado às políticas
exitosas de inclusão implementadas desde 2003. De maneira geral, as eleições
realizadas nos anos 2000 terminaram expressando cada vez mais a distinção de
satisfação conforme as dimensões territoriais e socioeconômicas do voto.
Estados e indivíduos mais ricos, por exemplo,
tenderam a se apresentar crescentemente insatisfeitos com as políticas de
elevação do nível de vida material de todos, sobretudo, para os segmentos de
menor rendimento. Sem a melhora do padrão individual de vida relativo ao
conjunto da população do país, especialmente mais rápida na base da pirâmide
social, a desigualdade que se reduz pode produzir não somente satisfações mais
também desconfortos e desaprovação.
No Brasil do começo do século 21, a elevação do
padrão de vida material ocorre generalizadamente entre todos os indivíduos.
Como a melhora se deu mais concentrada entre os mais pobres, a desigualdade no
País se tornou menor, gerando diferentes graus de satisfação e insatisfação no
interior da população.
Em resumo, a luta contra as desigualdades não
conta com o apoio de todos.
Depende dos segmentos aos quais o indivíduo
pertença, bem como a trajetória absoluta e relativa do crescimento do padrão de
vida dos indivíduos. Sem esta constatação prévia, dificilmente se conseguirá
entender o impasse a que o Brasil se encontra atualmente diante do paradoxo da
satisfação.
Em
redebrasil
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