Provavelmente
a ideia de golpe para muita gente
seria algo meio teatral, quem sabe com tropas nas ruas – como de resto já temos
episódios assim em nossa história recente, 64 – e que coisas que aconteceram
agora, tituladas como impeachment,
feitas ou levadas a efeito por deputados eleitos teriam cunho legal.
Seriam
legais se não fosse a forma, bem como as causas e/ou justificativas, no caso
forjadas, furadas, que receberam o aval e o caráter legal, construído nos
corações e mentes das pessoas desavisadas, pelos meios de comunicação –
sobretudo as globos da vida, o jornal
nacional, cujas pesquisas confirmam ser a principal fonte, a única, de
informação – entre aspas, é claro! – de parcela gigantesca da população
brasileira.
Logo,
falar em “golpe” passou a ser coisa de “petistas” – alcunha que se tornou
figurinha carimbada de qualquer pessoa que não goste ou se contrarie com qualquer
coisa do interino/golpe – em uma boa
construção/armação da dita cuja mídia
associada.
Agora,
leia/veja na voz do próprio interino, escalado para ficar à frente ‘das coisas’
em função de sua posição estratégica como vice-presidente, já que o golpe em si mesmo tem suas raízes ‘além
fronteira’.
"Michel temer diz que impeachment aconteceu porque Dilma rejeitou ‘ponte para o futuro’
O
presidente Michel Temer deixou escapar um “segredo” em discurso para
empresários e investidores nos EUA: o impeachment de Dilma Rousseff ocorreu
para implementar um plano de governo radicalmente diferente do que foi votado
nas urnas em 2014, quando o PT ganhou a presidência pela quarta vez, e não por
irregularidades praticadas pela ex-presidente.
Na sede da Sociedade Americana/Conselho das
Américas (AS/COA), em Nova York, nesta quarta-feira, dia 21, Temer disse que
ele e seu partido começaram a articular o afastamento de Rousseff em
consequência direta da não aceitação do programa neoliberal do PMDB pela
ex-presidente.
Veja o vídeo aqui:
"E há muitíssimos meses
atrás, eu ainda vice-presidente, lançamos um documento chamado ‘Uma Ponte Para
o Futuro’, porque nós verificávamos que seria impossível o governo continuar
naquele rumo. E até sugerimos ao governo que adotasse as teses que nós
apontávamos naquele documento chamado ‘Ponte para o futuro’. E, como isso não
deu certo, não houve adoção, instaurou-se um processo que culminou agora com a
minha efetivação como presidência da república.”
O “Ponte para o futuro” prescreve a desvinculação
dos recursos da saúde e da educação, desindexação dos benefícios e do salário
mínimo, mudança de idade para a aposentadoria, parcerias com o setor privado e
abertura comercial. Essas ideias estavam claramente refletidas na fala de Temer
na AS/COA, que visava dar seguimento à incansável empreitada de privatizaçõese facilitação da entrada do capital estrangeiro
no país, listando as vantagens e garantias que seu governo planeja implementar
para assegurar o lucro dos membros da platéia, que o ouviam (não tão
atentamente) enquanto desfrutavam de suas refeições.
Marcadas pelos já
conhecidos eufemismos neoliberais para o que poderia
simplesmente chamar de venda do patrimônio nacional, as garantias listadas pelo
presidente incluíram a “universalização do mercado brasileiro”, o
“restabelecimento da confiança”, uma tal “estabilidade política extraordinária”,
parcerias entre os setores público e privado e o avanço de reformas
“fundamentais” nas áreas trabalhista, previdenciária e de gastos do governo.
“Venho aqui convidá-los a participar dessa nova fase de crescimento do país,”
concluiu em tom de leilão.
Os dois grupos são compostos por representantes de
corporações multinacionais e membros do estabelecimento de política exterior
dos EUA em América Latina. Foram fundados pelo industrialista americano David Rockefeller e
têm John Negroponte como
presidente emérito – um político neoconservador fundamental para a guerra suja
da CIA em Honduras e para a invasão do Iraque em 2003. Em seu site, o
Conselho das Américas se define como uma “organização internacional cujos membros
compartilham um compromisso comum com o desenvolvimento econômico e social,
mercados abertos, estado democrático de direito e democracia por todo o
hemisfério ocidental”.
Essa é apenas mais uma singela confirmação de que
o impeachment de Dilma não se deu por conta das supostas “pedaladas fiscais”, como quis
fazer crer a facção que agora ocupa o executivo federal. Não foi pela família brasileira, não foi por Deus, não foi contra a
corrupção. Foi contra o trabalhador e em favor do empresariado. Foi
por impunidade, lucro e poder.
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