É como se diz popularmente: Estamos no mato sem cachorro. Com
senadores assim… Eles devem se sentirem como no passado, uma Câmara
do Nobres, que tinham direitos quase “divinos” acima do comum dos
mortais, onde a lei “ordinária” não os atingia.
É um poder interessante este de legislar em causa própria, tanto
é que alguns se sentem tão à vontade que nem se dão ao trabalho
de justificarem suas faltas e no final do mês pegam o “cacau”
pago com o dinheiro publico. E olhe que o seu papel “Constitucional”
seria o controle da constitucionalidade, ou seja, da observância
correta dos princípios legais, dos princípios da lei maior. Pode?
"Senado perdoa faltas e livra senadores de desconto
Quase 80% das ausências acumuladas por eles em 2015 foram
abonadas por “atividade parlamentar”, que, a rigor, pode ser
qualquer coisa. Muitos nem especificam por que faltaram e, ainda
assim, escapam de corte no salário.
A Constituição estabelece, em seu artigo 55, que o parlamentar
ausente a um terço das sessões ordinárias do Senado ou da Câmara
perderá o mandato se não apresentar justificativa para as faltas. O
senador ou deputado que desaparece do Congresso e não apresenta
razões para isto tem os dias de salários cortados. Mas os senadores
descobriram um jeito novo e simplório para driblar as punições:
alegam apenas que estão em “atividade parlamentar” nos estados e
ganham o abono da falta.
Levantamento exclusivo feito pela Revista
Congresso em Foco revela que três de cada quatro
senadores usaram esse tipo de explicação para suas ausências em
2015. Ao todo, 61 dos 82 parlamentares que passaram pela Casa e
tiveram ao menos uma falta recorreram ao expediente. Das 1.072
ausências justificadas, 820 (76%) foram atribuídas a atividades
parlamentares. Em tese, pode ser qualquer coisa que um congressista
esteja fazendo, seja de interesse público ou relacionado ao seu
mandato. Seja em Brasília, no seu estado ou até no exterior.
A Mesa Diretora do Senado abona as faltas mesmo quando a desculpa
do congressista não especifica o local ou a agenda a ser tratada. É
possível anular a ausência e evitar o corte no salário apenas com
uma declaração do parlamentar. A Secretaria-Geral da Mesa explica
que o senador sequer precisa apresentar comprovante sobre o tipo de
atividade de que participou. O congressista só é obrigado a
apresentar relatório de suas atividades fora do Legislativo quando a
missão política implicar custo.
O número de ausências justificadas quase dobrou do primeiro ano
da legislatura passada para esta. Em 2011, 669 faltas foram abonadas,
ou seja, autorizadas pela Mesa Diretora ou pelo Plenário. Além das
atividades parlamentares genéricas, os senadores podem usar como
justificativa a participação em discussões ou eventos em que
representam o Senado, as chamadas missões oficiais, e licenças
médicas.
Nesses casos, não há desconto nos vencimentos, diferentemente do
terceiro motivo admitido pela Casa: o afastamento para tratar de
assuntos particulares. Em 2015, dois senadores atingiram o limite
constitucional de faltas que implica a perda de mandato: Magno Malta
(PR-ES) e Zezé Perrella. Mas, com as justificativas genéricas, eles
não correm risco de perder o mandato.
Um terço fora
Campeão de ausências em 2015, Magno não compareceu a 49 das 127
sessões com previsão de votação. Apresentou 34 requerimentos
alegando que ficou longe de Brasília em “atividades parlamentares”
sem dizer quais. Outras duas faltas o senador atribuiu a problemas de
saúde. Em todos os casos teve o ponto preservado. Com isso, apenas
três faltas do senador capixaba ficaram sem explicação. A
assessoria do parlamentar garante que ele não cometeu nenhuma
irregularidade e que se ausentou do plenário para defender suas
bandeiras políticas em audiências públicas e sessões importantes
do Supremo Tribunal Federal (STF), por exemplo.
Quem mais utilizou o recurso da atividade parlamentar foi Zezé
Perrella (PDT-MG). Ele faltou a 48 sessões deliberativas em 2015,
mais de um terço do total de reuniões. Em quase todas as vezes, deu
a desculpa genérica e teve as faltas abonadas, com exceção de dois
dias em que ele alegou “motivos particulares”.
Perrella fez duas
viagens internacionais oficiais representando o Senado: uma visita
técnica a uma empresa nos Estados Unidos, pela Comissão de Ciência
e Tecnologia, e outra a Roma, também oficial, para conhecer o
Parlamento italiano.
A assessoria de Perrella afirma que as ausências por atividade
parlamentar não tiveram intenção de burlar o sistema de controle
de presenças, e que todas se deram em razão do mandato. O pedetista
também informou que precisava visitar as cidades onde foi votado
para manter fiéis os eleitores. Ele só detalhou duas
justificativas. Uma para visitar o local do desastre ambiental
provocado pela lama da barragem de rejeitos da empresa Samarco, que
atingiu distritos da cidade de Mariana (MG), e sua viagem para
visitar o Congresso italiano. O senador assumiu o mandato em 2011,
como suplente do ex-presidente Itamar Franco, morto naquele ano.
Além de Magno Malta e Perrella, também estão na lista dos mais
faltosos de 2015 os senadores José Maranhão (PMDB-PB) e Gladson
Cameli (PP-AC). Maranhão alegou que 25 das suas 41 faltas ocorreram
porque estava doente com febre chikungunya. Em outras 14
oportunidades, o senador atribuiu suas ausências a atividades
parlamentares na sua Paraíba. Cameli conseguiu abonar todas as 36
faltas. Ele informou que viajou ao Vietnã, à África do Sul e à
França, onde participou da COP-21, a cúpula mundial do clima em
Paris.
Sem justificativa
O senador Jader Barbalho (PMDB-PA) é o campeão de ausências sem
justificativas em 2015. Nos dois primeiros meses do ano passado, o
parlamentar tirou licença para tratar da saúde. No lugar dele,
assumiu o suplente Fernando Ribeiro (PMDB-PA). Entre abril e
dezembro, Jader apresentou 11 justificativas para ficar longe de
Brasília. Em nove delas alegou motivos particulares. Em outras duas,
atividades parlamentares. O senador não apresentou qualquer
justificativa para 14 faltas e teve os dias cortados. Jader não quis
comentar o assunto.
Outro que registrou número alto de faltas injustificadas no
levantamento da revista foi o senador Davi Alcolumbre (DEM-AP). Ele
faltou a 11 sessões ao longo de 2015. Apenas uma delas foi atribuída
a atividade parlamentar. As outras dez faltas não foram abonadas
porque não houve apresentação de justificativa. A assessoria
afirma que duas dessas ausências ocorreram por motivos pessoais. Nas
outras oito, segundo o gabinete de Alcolumbre, o senador não
registrou presença porque foi visitar o presidente do STF, Ricardo
Lewandowski, e o então ministro-chefe da Casa Civil, Aloizio
Mercadante. Os gabinetes das duas autoridades ficam a 300 metros do
Congresso.
Luma Poletti e Rodrigo Vasconcelos CONGRESSO
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