segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

O neofascismo e o “povinho de merda”. O que, no fundo, muita gente pensa, dos outros, como se fosse …

É um lance tão arraigado no imaginário das pessoas, que uma expressão muito comum que se vê por aí, e como! É: “Brasileiro é assim…” ou: “No Brasil…”

É a própria expressão do viralatismo enrustido, inclusive em pessoas pretensamente conscientes e politizadas, ou que se tem em conta como tais…

Costumamos ouvir estas expressões, mesmo, em situações “bem inocentes”, o que denota o enraizamento desta “coisa” nos corações e mentes das pessoas, “coisas” estas tão bem pregadas e disseminadas pelos meios de comunicação, que a maioria não percebe o seu alcance deletério.

Uma ironia no caso, é que quem fala age como se por algum passe de mágica deixasse de ser brasileiro ou ser do Brasil, já que o peso e, não raro a virulência com que expressa, é sobre o outro, é sobre os outros… brasileiros…

Com um background deste nipe, ler um texto como o deste norte-americano aí, é como juntar a fome com a vontade de comer. É a morbidez do processo de autoflagelação inconsciente e, é claro, que deve até trazer masoquisticamente algum “prazer cívico”.

Esta reflexão é para quem possa ter se sentido representado por este gringo, e só está sendo feita aqui, publicada, em função dos comentários abaixo, no Tijolaço, já que, quando vi o texto do tal sujeito, achei que o melhor que poderia fazer era deixá-lo lá onde o vi, sem contribuir, mesmo que com o sinal trocado – falando mal – para divulgar ou dar qualquer relevância àquele monte de besteiras do dito cujo.

Depois desta, só falta ele ser convidado para ser articulista na veja ou na folha.

       "O neofascismo e o “povinho de merda”

Começo o texto fazendo uma confissão: errei.

Recebi, pelo Facebook, um texto de resposta a uma carta de um norte-americano, que vivia aqui, e que chega à conclusão de que o problema do Brasil é… você, brasileiro.

Você é o problema”, diz o tal Mark Mason.

Achei que era uma bobagem tão grande que rebarbei a boa resposta feita – e enviada ao blog – pelo Diego Quinteiro. Mas comecei a ver a repercussão na rede, o uivar dos vira-latas que não podem ver um amontoado de besteiras escrito em inglês para sonorizar sua vira-latice.

Então respondo, certamente sem a paciência do Diego.

Mark usa como exemplo o que ele supõe ser a atitude do brasileiro: estar num carro que, de noite, esbarra e “arranca o retrovisor de um carro supercaro” e que, encontrando o dono do carrão no dia seguinte, vai silenciar.

Pode até ser, Mark.

Mas, calma aí.

Vocês, mundo afora, fizeram mais que arrancar retrovisores.

Mataram milhões de pessoas. Saquearam países. Colocaram negros em currais muito depois de que aqui, com todos os perrengues racistas, não tivemos apartheid legalizado, nem Ku Klux Klan.

E quando não fizeram diretamente, como no Vietnã, no Iraque, no Afeganistão, ajudaram a fazer, com as ditaduras no Brasil, no Chile, na Argentina, no Irã, nas banana republics da América Central.

Nem por isso estamos dizendo ao povo norte-americano que “você é o problema”.

Em poucos lugares do mundo – e um deles é aqui – vocês podem andar na rua e serem bem tratados e admirados.

Você mesmo diz, em outro texto que “a menos que você esteja falando com um agente imobiliário ou uma prostituta, é provável que as pessoas não vão ficar animadas porque você é norte-americano”.

Mas você é capaz de dizer, numa redução abjeta, que até casou com “uma de suas garotas.”

Não, amigo, você casou com um ser humano, não importa se brasileira, japonesa, queniana, coreana.

Não com “one of your girls”.

Minha filha casou com o Michael, de Illinois, onde ela fez um pós-pós-doutorado, e não com “one of your boys”. E ele vai entrar num curso de português, porque todo mundo é tão gentil se virando no inglês que ele ainda não fala direito a nossa língua.

Você diz que, durante algum tempo, achou que o colonialismo era a razão de nossas desgraças. Mas, agora, deixou de achar.

Então, faz o seguinte: manda devolver tudo o que se tirou deste país, do ouro que Portugal saqueava e ia parar com os ingleses ao ferro, ao açúcar, ao café, a tudo o que mandamos para fora num sistema de trocas internacionais injustos.

Aí você pode dizer à vontade que o problema do Brasil é o nosso “egoísmo”, que, pobre coitado, não vai além de querer proteger nossas famílias, não o nosso país.

Você diz que “brasileiros pagam tudo parcelado, porque eles querem sentir e mostrar que eles podem ter aquela supertevê mesmo quando, na realidade, eles não tenham dinheiro para pagar”.

Mark, você passou quatro anos no Brasil e não aprendeu nada. Eu compro remédio na farmácia parcelado, porque é o mesmo preço.

É, cara, o sistema financeiro que vocês impõem ao país é tão maluco que comprar a supertevê a vista ou em dez vezes custa o mesmo, o que quer dizer que se paga, automaticamente, um sobrepreço que, adivinha, o pessoal do sistema financeiro, que é todinho “agringalhado” nos impõe.

Sua turma, Mark, que acha o brasileiro “um povinho de merda” não consegue ver que as deficiências deste povo e até a cultura comportamental que frequentemente se vê é obra, sorry, do que sua cultura nos impôs de consumismo, de competitividade, de “money makes the world go around”.

Aqui tinha até uma lenda arcaica de que “dinheiro não traz felicidade”, que, claro, eu não ouso repetir. Mas, sabe, Mike, ainda resiste aqui um pouco, um pouquinho, de brio.

Você pode ser admirado por uns guris e gurias que acham que Miami é a Paris do século 21. E, por causa disso, com a delicadeza dos brasileiros que fazem tudo para que vocês nos entendam, sou gentil e pergunto: “Mark, what did you mean is vá catar… ‘vá catar coquinho’?”

Se quiser, senta aí e baixa a bola. Se não, “porta da rua, serventia da casa”. So if you wanna go, walk right out that door.

Fernando Brito, via Tijolaço
 
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