É um lance tão arraigado
no imaginário das pessoas, que uma expressão muito comum que se vê
por aí, e como! É: “Brasileiro é assim…” ou: “No
Brasil…”
É a própria expressão do
viralatismo enrustido, inclusive em pessoas pretensamente
conscientes e politizadas, ou que se tem em conta como tais…
Costumamos ouvir estas
expressões, mesmo, em situações “bem inocentes”, o que denota
o enraizamento desta “coisa” nos corações e mentes das pessoas,
“coisas” estas tão bem pregadas e disseminadas pelos meios de
comunicação, que a maioria não percebe o seu alcance
deletério.
Uma ironia no caso, é que
quem fala age como se por algum passe de mágica deixasse de ser
brasileiro ou ser do Brasil, já que o peso e, não raro a virulência
com que expressa, é sobre o outro, é sobre os outros…
brasileiros…
Com um background deste
nipe, ler um texto como o deste norte-americano aí, é como juntar a
fome com a vontade de comer. É a morbidez do processo de
autoflagelação inconsciente e, é claro, que deve até trazer
masoquisticamente algum “prazer cívico”.
Esta reflexão é para quem
possa ter se sentido representado por este gringo, e só está sendo
feita aqui, publicada, em função dos comentários abaixo, no
Tijolaço, já que, quando vi o texto do tal sujeito, achei que o
melhor que poderia fazer era deixá-lo lá onde o vi, sem contribuir,
mesmo que com o sinal trocado – falando mal – para divulgar ou
dar qualquer relevância àquele monte de besteiras do dito cujo.
Depois desta, só falta ele
ser convidado para ser articulista na veja ou na folha.
"O neofascismo e o “povinho de merda”
Começo o texto fazendo uma
confissão: errei.
Recebi, pelo Facebook, um
texto de resposta a uma carta de um norte-americano, que vivia aqui,
e que chega à conclusão de que o problema do Brasil é… você,
brasileiro.
“Você é o problema”,
diz o tal Mark Mason.
Achei que era uma bobagem
tão grande que rebarbei a boa resposta feita – e enviada ao blog –
pelo Diego
Quinteiro. Mas comecei a ver a repercussão na rede, o uivar dos
vira-latas que não podem ver um amontoado de besteiras escrito em
inglês para sonorizar sua vira-latice.
Então respondo, certamente
sem a paciência do Diego.
Mark usa como exemplo o que
ele supõe ser a atitude do brasileiro: estar num carro que, de
noite, esbarra e “arranca o retrovisor de um carro supercaro” e
que, encontrando o dono do carrão no dia seguinte, vai silenciar.
Pode até ser, Mark.
Mas, calma aí.
Vocês, mundo afora,
fizeram mais que arrancar retrovisores.
Mataram milhões de
pessoas. Saquearam países. Colocaram negros em currais muito depois
de que aqui, com todos os perrengues racistas, não tivemos apartheid
legalizado, nem Ku Klux Klan.
E quando não fizeram
diretamente, como no Vietnã, no Iraque, no Afeganistão, ajudaram a
fazer, com as ditaduras no Brasil, no Chile, na Argentina, no Irã,
nas banana
republics da
América Central.
Nem por isso estamos
dizendo ao povo norte-americano que “você é o problema”.
Em poucos lugares do mundo
– e um deles é aqui – vocês podem andar na rua e serem bem
tratados e admirados.
Você mesmo diz, em outro
texto que “a menos que você esteja falando com um agente
imobiliário ou uma prostituta, é provável que as pessoas não vão
ficar animadas porque você é norte-americano”.
Mas você é capaz de
dizer, numa redução abjeta, que até casou com “uma de suas
garotas.”
Não, amigo, você casou
com um ser humano, não importa se brasileira, japonesa, queniana,
coreana.
Não com “one of your
girls”.
Minha filha casou com o
Michael, de Illinois, onde ela fez um pós-pós-doutorado, e não com
“one of your boys”. E ele vai entrar num curso de português,
porque todo mundo é tão gentil se virando no inglês que ele ainda
não fala direito a nossa língua.
Você diz que, durante
algum tempo, achou que o colonialismo era a razão de nossas
desgraças. Mas, agora, deixou de achar.
Então, faz o seguinte:
manda devolver tudo o que se tirou deste país, do ouro que Portugal
saqueava e ia parar com os ingleses ao ferro, ao açúcar, ao café,
a tudo o que mandamos para fora num sistema de trocas internacionais
injustos.
Aí você pode dizer à
vontade que o problema do Brasil é o nosso “egoísmo”, que,
pobre coitado, não vai além de querer proteger nossas famílias,
não o nosso país.
Você diz que “brasileiros
pagam tudo parcelado, porque eles querem sentir e mostrar que eles
podem ter aquela supertevê mesmo quando, na realidade, eles não
tenham dinheiro para pagar”.
Mark, você passou quatro
anos no Brasil e não aprendeu nada. Eu compro remédio na farmácia
parcelado, porque é o mesmo preço.
É, cara, o sistema
financeiro que vocês impõem ao país é tão maluco que comprar a
supertevê a
vista ou em dez vezes custa o mesmo, o que quer dizer que se paga,
automaticamente, um sobrepreço que, adivinha, o pessoal do sistema
financeiro, que é todinho “agringalhado” nos impõe.
Sua turma, Mark, que acha o
brasileiro “um povinho de merda” não consegue ver que as
deficiências deste povo e até a cultura comportamental que
frequentemente se vê é obra, sorry,
do que sua cultura nos impôs de consumismo, de competitividade, de
“money makes the world go around”.
Aqui tinha até uma lenda
arcaica de que “dinheiro não traz felicidade”, que, claro, eu
não ouso repetir. Mas, sabe, Mike, ainda resiste aqui um pouco, um
pouquinho, de brio.
Você pode ser admirado por
uns guris e gurias que acham que Miami é a Paris do século 21. E,
por causa disso, com a delicadeza dos brasileiros que fazem tudo para
que vocês nos entendam, sou gentil e pergunto: “Mark, what did you
mean is vá catar… ‘vá catar coquinho’?”
Se quiser, senta aí e
baixa a bola. Se não, “porta da rua, serventia da casa”. So
if you wanna go, walk right out that door.
Fernando
Brito, via
Tijolaço
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