Já ouviu
falar em “fóssil midiático”? Não? Tem
certeza? Fico feliz em saber que você não vê o Jornal Nacional. É, é isso, um ‘fóssil midiático’ que sobrevivia até
então detonando os corações e mentes dos brasileiros desavisados.
Digo ‘vivia’
porque, a avaliar pelo ‘despencamento’ de sua audiência, é só uma questão de
tempo... Benza Deus...! Como se diz popularmente.
Salientamos
este exemplo do atraso, da alienação, o JN,
como ícone, mesmo, que convive com um grupo – ou seria uma corja? – de veículos
de (des) comunicação irmanados no mesmo propósito de detonar os corações e
mentes dos incautos e levar junto o Brasil.
Como vê,
e conhece, temos outros... (Nunca ouvi dizer que fósseis fedam... Nesses casos
temos exceções).
"A mídia brasileira está 200 anos atrasada e aqui está a explicação
No livro Vida e Morte dos Barões da
Imprensa, não vertido para o português, o escritor Piers Brandon conta uma
coisa interessante.
Os barões ingleses e americanos
surgiram a partir de mais ou menos 1830. Até então, os jornais viviam
basicamente de subsídios governamentais, e isso de alguma forma evitou o
surgimento de colossos como Pulitzer e Hearst.
Até 1830, o jornalismo nos Estados Unidos
e na Inglaterra, os dois países com a melhor mídia do mundo, viveu uma fase
pré-capitalista.
Por essa métrica, a dos subsídios,
você logo chega à conclusão de que o jornalismo brasileiro está 200 anos
atrasado.
Em pleno 2015, sem o dinheiro público
as grandes empresas de mídia brasileiras simplesmente não sobrevivem.
Escrevi certa vez que cada pastilha da
sede da Globo foi paga pelo contribuinte, e não exagerei.
Considere as múltiplas maneiras pela
qual o dinheiro público vai dar nas corporações jornalísticas.
Você tem a bilionária publicidade
federal. Mesmo com audiências cadentes a Globo tem recebido 500 milhões ao ano
do governo federal.
Não sei se rio ou choro quando leio a
infâmia de que o DCM vive do governo. Ora, se dependêssemos do governo simplesmente
não existiríamos.
A estrutura publicitária do governo é
voltada para as grandes empresas. É muito mais fácil para a Globo buscar em
Brasília meio bilhão ano após ano do que um site como o DCM conseguir um milésimo disso, ou até menos, com um audiência
que cresce todo dia.
Não dependemos do governo – graças a
Deus.
As grandes empresas sempre dependeram,
e os privilégios contínuos as fizeram ser ineficientes como filhos mimados.
Não é apenas a publicidade federal que
abarrota a caixa das empresas. Os governos estaduais também contribuem
fortemente para o enriquecimento dos barões.
O governo de Aécio em Minas foi uma
festa para a Globo, que sempre lhe deu em contrapartida tratamento vip. O
governo do PSDB chega ao cúmulo de comprar milhares de assinaturas da Veja que
vão dar em escolas cujos alunos sequer tiram os exemplares do envelope.
Até o papel de jornais e revistas é
subsidiado. É o chamado “papel imune”. Um dinheiro que poderia construir
escolas fica na Folha, na Globo, na Abril, no Estadão e por aí vai.
Jânio ficou incomodado com isso. Num
pronunciamento em cadeia nacional, denunciou o mau uso do dinheiro público com
o papel subsidiado pelo povo.
No programa, ele segurava uma edição
dominical do Estadão.
Isso foi em 1961. Jânio logo passou, e
o papel imune está ainda vivíssimo, mais de meio século depois.
O BNDES também foi sempre uma fonte de
subsídio para as companhias de jornalismo. A nova gráfica da Globo foi feita
com financiamento maternal do BNDES. A Abril reformou a tecnologia de seu
departamento de assinaturas, poucos anos atrás, com dinheiro do BNDES.
Não bastasse todas essas coisas, há um
subsídio indireto que se chama reserva de mercado.
Jornais e revistas criticaram a
reserva de mercado duramente nos anos 1980. Com Collor se iniciou a abertura
econômica, e a reserva de mercado desapareceu de quase todos os setores.
Mas não da imprensa.
Grandes empresas internacionais
ficaram impedidas de se instalar no Brasil.
Foi bom apenas para os barões. Para a
sociedade, foi um horror.
Num artigo em que defendeu a reserva,
a Globo alegou que os chineses poderiam fazer propaganda comunista com os
canais de tevê que porventura comprassem.
A imprensa brasileira opera num
sistema pré-capitalista, como os barões americanos e ingleses dos primórdios do
século 19.
Por isso é tão ruim.
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