Fica
difícil formar, mesmo, uma opinião lúcida e inteligente com ‘fontes’ tipo vejas
e jornais nacionais da vida, isso sem falar naqueles que ainda tentam manter a
pose, como a folha e o estadão.
A escola
que está tão fixada no acesso à universidade transformou o ensino em algo puramente
instrumental, no sentido profissional da coisa, onde o aluno como pessoa ou como
ser político que é, ficou... Sabe-se lá onde.
Logo,
não poderia dar outra coisa. Uma indigência político/informativa de fazer dó, como
se diz, e massa de manobra fácil para esses formadores de ‘desopinião’ que
domina a mídia usual.
Este
artigo do Veríssimo analisa isso, a falta de propósito, de sentido e lógica, de
grande parte dos manifestantes, onde as exceções devem se apenas os próprios idealizadores
e manipuladores dos protestos e manifestações.
"O vácuo
Os
manifestantes contra o governo sabem o que não querem — a Dilma, o Lula, o PT
no poder —, mas ainda não pensaram bem no que querem.
Houve
um tempo em que os cachorros corriam atrás dos carros. Era uma cena comum:
vira-latas perseguindo carros, latindo, como se quisessem expulsar um intruso
no seu meio. Às vezes viam-se bandos de cães indignados, perseguindo carros que
passavam, e dava até para imaginar que um dia conseguiriam alcançar um, dos
pequenos, pará-lo, cercá-lo e… E o quê? Comê-lo? Nunca ficou claro o que os
cachorros fariam se alcançassem um carro. Era uma raiva sem planejamento.
(Hoje, a cena de cachorros correndo atrás de carros é rara. Os cachorros
modernizaram-se. Renderam-se ao domínio do automóvel. Ou convenceram-se do seu
próprio ridículo).
Os
manifestantes contra o governo sabem o que não querem — a Dilma, o Lula, o PT
no poder —, mas ainda não pensaram bem no que querem. Se conseguirem derrubar o
governo, que cada vez mais se parece com um Fusca indefeso sitiado por cães
obsoletos, o que, exatamente, pretendem fazer com o vácuo? A política econômica
atual é um sonho neoliberal. Seu oposto seria uma volta à politica econômica
pré-Levy? Dependendo de como for impedida a Dilma, o vácuo pode ser preenchido
pela ascensão do vice-presidente (tudo bem), pelo eleito num novo pleito (seja
o que Deus quiser) ou pelo Eduardo Cunha (bate na madeira). O que os
manifestantes preferem? A raiva precisa de um mínimo de previsão.
Uma
parte dos manifestantes não tem dúvida do que quer. Da primeira grande
manifestação de 2013, passando pelas duas deste ano, o que mais cresceu e apareceu
foi a linha Bolsonaro, que pede a volta da ditadura militar e lamenta,
abertamente, que os militares não tenham matado a Dilma quando tiveram a
oportunidade. Por sinal, o Fernando Henrique talvez se lembre que o Bolsonaro
disse a mesma coisa a seu respeito. Mas, enfim, as guerras fazem estranhos
aliados.
Sugiro
a quem se preocupa com o momento nacional que faça um pouco de arqueologia
histórica para manter as coisas em perspectiva. Procure na imprensa da época a
reação causada pela marcha da família com Deus pela liberdade contra a ameaça
comunista. Também foi uma manifestação enorme, impressionante. E foi o
preâmbulo do golpe de 64, e dos 20 anos negros que se seguiram e hoje tanta
gente quer ver de novo. Pode-se argumentar que os tempos eram outros, tão
distantes que os cachorros de então ainda corriam atrás de
carros, e a luta era outra. Mas o triste é que ainda é a mesma luta.
Em o Globo
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