Estes são
tempos “bãos”, como se diz. Em que pese os excessos, as injustiças, o
entreguismo lesa-pátria de alguns, as impunidades e coisas do gênero. É como um
parto – meio doloroso, na verdade – onde o que se espera é que ‘saia’ um Brasil
mais aberto, mais franco, mais visível, mais consciente, mais justo (de
Justiça, mesmo) para todos, já que até então coexistiam dois ‘brasis’: o da
‘elite’ e apaniguados associados e aquele do ‘povo’, sobretudo aquele ‘povo’ que
se informa, e se nutre, das ‘noticias’, ‘informações’, mentiras, mesmo, da mídia
usual.
Isso –
a fonte de informações, cada vez mais conhecida como PIG (partido da imprensa
golpista) – acabava por gerar, infelizmente ainda gera, uma postura política e eleitoral
subserviente, de cordeiro, e o que é pior, com o dito cujo, leitor e/ou
telespectador, se achando o máximo da informação e da consciência política.
(esta parte ainda rola solta, e como!).
O
lance agora é cada um fazer a sua parte no que se refere à informação,
consciência – mesmo! – e participação.
"O “jabá” e o jornalismo da Jovem PAN
A Piauí conta que a Jovem Pan
veicula propaganda do governo Alckmin disfarçada de reportagem. O ouvinte é
premiado com “publieditoriais” sem qualquer aviso. O Metrô, lê-se na revista,
investiu 235 mil reais na Pan neste ano. Em 2014, esse valor chegou a um milhão
de reais.
O valor pago pela Sabesp não é
revelado. Mas a emissora cobre a crise de falta d’água em São Paulo de uma
maneira original: só boas notícias, como se pode verificar no site oficial da rádio.
Em abril, o jornalista Luiz Antonio
Cintra publicou no Viomundo um relato didático de como as
coisas funcionam. Cintra estava ajudando a dar sustentação aos comentários do
publicitário Mauro Motoryn (mais conhecido por servir de escada para Marco
Antonio Villa num programa em que os dois debatem).
Ele lembra que Motoryn acatou uma
sugestão de falar dos problemas no Sistema Cantareira. Não foi muito longe. Um
“supervisor” da Pan entrou no estúdio. “
Mauro, aí não… aí não, Mauro. desse jeito
fica ruim pra gente… Melhor não falar de água por enquanto, a Sabesp está
colocando uma grana na rádio. Não tem outro assunto, não?”, disse o
funcionário, de acordo com Cintra.
Providenciou-se outro assunto.
A Piauí cita também um dinheiro
desembolsado pelo então prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, atual ministro
das Cidades. Durante sua gestão, jornalistas recebiam até 10 mil reais a mais
por “matérias” favoráveis.
Uma fonte do DCM que
trabalhou na Câmara Municipal na época me diz que Kassab dava aos
vereadores da base aliada um “mensalinho” para bancar programas radiofônicos.
Além da Pan, Tupi e Capital também entravam no bolo.
Quem conhece um pouco a Jovem Pan
pode tudo, menos se surpreender. Isso é o clássico jabá, uma especialidade do
meio que a empresa de Antônio Augusto Amaral de Carvalho Filho, o “Tutinha”,
elevou ao estatuto de arte.
Jabá é, pura e simplesmente, um
suborno. No mundo do FM, serve para gravadoras promoverem artistas. Ou se paga,
ou a música não toca.
Tutinha sempre carregou a
fama nacional de “jabazeiro”. Numa entrevista à Playboy, ele declarou que não
se importava com o rótulo e que fazia, na verdade, “acordos comerciais”.
“Hoje chegam 30 artistas novos por
dia. Por que eu vou tocar? Eu seleciono dez, mas não tenho espaço para tocar os
dez. Aí eu vou nas gravadoras e para aquela que me dá alguma vantagem eu dou
preferência”, disse. “Eu tocava, mas queria alguma coisa. Promoção, dinheiro.”
O “extra” para o reportariado elogiar
o governo também é uma prática antiga. André Midani, ex-presidente da extinta
CBS e da Warner, responsável por lançar boa parte das bandas dos anos 80,
explicou o mecanismo para a Folha.
“O que aconteceu é que os funcionários
de rádio não ganhavam e não ganham muito dinheiro. São salários modestos. Então
no início o disc-jóquei encontrou nessa manobra um meio de ganhar um pouco
mais”, disse. Os donos, prossegue Midani, “ficavam contentes, pois não tinham
que aumentar os salários. Mas, na medida em que a soma de dinheiro foi ficando
maior, começaram a pensar: ‘E eu nessa história?’”.
Para Midani, Tutinha fazia isso de
“forma profissional”. “Armava-se quase uma operação de marketing genuína”,
definiu.
Não existe quase genuíno, como não
existe semi virgem. O modus operandi da emissora de Tutinha no jornalismo é o
mesmo da música — área em que acumulou know how ao longo de décadas. Foi ali
que Tutinha, filho do fundador, cresceu. Entre suas criações está o Pânico. Na
Wikipedia, ficamos sabendo que ele “lançou do anonimato à fama os
apresentadores Luciano Huck e Adriane Galisteu”. Desde junho de 2014, é o
presidente do grupo.
Com a derrocada da indústria
fonográfica, Tutinha e sua Jovem Pan tiveram de buscar outras fontes de
receita, mas o método não difere. Ele já chegou a falar que queria “ser menos
dinheirista” à revista Trip. “Parece demagogia, mas é verdade”, disse. “Caceta,
que é que eu tô fazendo pros outros? Grande merda tudo dar certo e não fazer
nada pros outros!”.
Bem, o que ele fez pelos outros é uma
usina de ódio partidário, em que propaganda é travestida de jornalismo. O jabá
a serviço do combate à corrupção. (de Kiko Nogueira)
No DCM
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