As selfies ilustram muito bem a
quantas anda o eu e o outro em nossos relacionamentos, isso sem falar no
celular propriamente dito, onde o dedo passou a ser protagonista dominante nos
encontros silenciosos tanto entre
amigos, e até –pasme! – entre namorados e amantes. Logo um artigo assim é bem
oportuno como ponto de reflexão para nos situarmos melhor em nossas relações ou
perceber para onde as estamos levando ou conduzindo.
O poder da empatia revisitado
Um
tema ou assunto que costumo ouvir e ver muito nos meios na atualidade é empatia. Sim, a coisa, grosso
modo falando, de se conectar com o outro. Entender a dor do outro, sentir e
estar em conexão. Conexão. Tudo que fazemos hoje, #sóquenão!
Cada
vez mais as pessoas estão desconectadas acerca do que estão falando. Isso tem a
ver (tudo grosso modo... as
coisas são bem mais complexas né...) com o ímpeto e o desejo de
falarmos somente sobre nós mesmos para nós mesmos, e de acordo com nós mesmos. Isso
não é de todo ruim, se pensarmos que algumas pessoas poderiam ganhar
visibilidade, poderiam estar "finalmente" no spot: sendo ouvida,
reconhecida, compreendida. Hummm... Not.
O que
vemos é uma sucessão de palcos do eu-isolado, que, conforme sua história, suas
vontades e suas regras, liga o megafone (potencializado lindamente nas redes
sociais) e desliga o fone de ouvido para não ouvir o que não é eu. O
"outro"? Que "outro" que não minha audiência?
Nesse
processo perdemos muito com algo bem sério: o outro, de fato. Vozes
minoritárias, historicamente negadas de privilégio e prestígio, de lugar e
reconhecimento, são silenciadas nessa verve por apenas falar e ouvir o que nós
queremos.
"-
Ué, mas não tem acesso?"
Do que adianta acesso a voz sem ninguém está realmente escutando?
Nesse
sentido, um pensamento surge: por que não fazemos o exercício de aplicação da
empatia? Por que não tomamos esse conceito em sua real aplicação e não apenas
como uma dica abstrata em manuais de autoajuda?
Leia: Psiquiatras reconhecem propensão às selfies como transtorno mental
Em uma
breve fala, a pesquisadora
norte-americana Brene Brown nos ensina sobre empatia, e como ela seria
diferente (e mais interessante) do que é simpatia.
Simpatia é não conseguir ver
a dor alheia, tentando tornar positivo (e forçar a barra) sobre problemas que
nem estamos tentando compreender. Empatia,
por outro lado, se refere ao processo de se conectar com o outro, envolvendo
basicamente 4 processos de aproximação: (a) entendimento de perspectiva, (b)
reconhecimento da perspectiva do outro como verdade, (c) não julga-las, e (d)
reconhecer emoção em outras pessoas, comunicando isso.
O que
gostaria de propor é que começássemos a (tentar) colocar em prática a empatia
como processo real, concreto, de interação com o outro. Nesse processo ouvimos,
escutamos para aprender, e sentimos, no máximo a dor (ou problema) colocada
pelo outro. E não julgamos ou (como tem sido frequente nas questões de
desigualdade como raça, gênero e sexualidade) contra-atacamos, se dizendo
"vítimas de algo contra-que-não-existe".
Ouvir,
escutar. Reconhecer a dor do outro, e a verdade colocada naquela dor, no que
outro está sentindo. El@ está falando. Escute. Escute o que @s negr@s estão
falando sobre racismo. Escute o que as mulheres estão falando machismo, e o
valor do feminismo para lutar contra. Escute o que gays, lésbicas, transexuais
e travestis estão falando sobre homofobia e transfobia. Em suma, escute as
vozes que, por anos e anos, foram alijadas de representatividade e
reconhecimento. São vozes que representam a luta para superação e quebra de
privilégios, de desigualdades.
Não é
tarefa fácil e muitas vezes é cheia de dores e ouvimos coisas que não
gostaríamos de escutar. Empatia
é uma escolha de vulnerabilidade. E, nessa escolha, ouvir e
entender o lugar do Outro é revolucionário e transformador a partir do momento
em que se demonstra ser um caminho viável para quebra de privilégios e
silenciamentos, sem "simpatia" ou visão de pena. Simpatia não quebra
privilégios, mas sim (consciente ou inconscientemente) os reproduz.
Com a
empatia, estabelecemos uma conexão, que vê no outro (uso repetidas vezes esse
termo de propósito) alguém a se considerar, escutar e respeitar. No limite, vê
nas questões do outros pontos que tangenciam (e acredite: sempre tangencia!) a
sua própria vida, sua própria realidade - e de uma maneira que você nunca teria
pensado sobre. E talvez, finalmente, possibilita o que todas as pessoas na
atualidade sinalizam "querer fazer": se conectar. Só que de verdade.
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