O tema
Petrobrás ficou tão corriqueiro, tão batido, que qualquer pessoa na rua emite “aquela
opinião” embasada nas “notícias” da Globo com aquele ar de autoridade no
assunto, taxativamente condenando o governo e o PT. É quase uma unanimidade,
como também a “certeza” de que o PT inventou a corrupção e o mau uso da coisa
pública. A própria personificação do gênio do mal, ou melhor, do rabudo.
Mas,
para quem se interessa, mesmo, por fatos, por chegar mais perto do que de
verdade aconteceu e acontece, vai ter um pouco mais de trabalho do que ficar
inertemente alugando seus neurônios – para muitos, já o “tico e teco” – para os
“gênios” do Jornal Nacional. A internet é ampla é só se habilitar. Seus neurônios
agradecem!
*Luiz Gonzaga Belluzzo é economista e professor da
Unicamp
"A crise da Petrobras à
luz do problema global do petróleo, mas o alarmismo da imprensa parece
interessado em modificar o regime de partilha do pré-sal
“Há
vários interesses geopolíticos interferindo na crise da Petrobras”, afirma Luiz
Gonzaga Belluzzo, ao lembrar que as petroleiras norte-americanas ficaram de
fora da exploração de uma enorme reserva da área do pré-sal onde estão
presentes companhias chinesas associadas à estatal brasileira.
O
professor da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e eventual assessor da
presidenta Dilma Rousseff analisa o escândalo em torno da operação Lava Jato a
partir de um ângulo geopolítico e econômico, evitando o alarmismo da velha
imprensa, que parece interessada em “modificar o regime da partilha e voltar ao
de concessão”, segundo afirmou em entrevista à Carta Maior.
Mar
de fundo
“Claro
que tudo isto que acontece na Petrobras tem importância geopolítica. Acredito
que os Estados Unidos não se conformem em terem ficado de fora da exploração do
campo de Libra, no leilão do ano passado, vencido por um consórcio de
petroleiras chinesas, e todo o mundo sabe que a China quer disputar novos
leilões na área do pré-sal, fortalecendo sua presença”.
“A
crise da Petrobras tem que ser compreendida em meio a um quadro maior, que é o
problema global do petróleo, envolvendo a Rússia e as pressões feitas
recentemente contra a Rússia, tentando encurralar o governo de Putin. Me parece
difícil que as potências ocidentais consigam fazer a alma russa ceder”.
Dilma
“É
absurdo vincular de algum modo a presidenta Dilma com a corrupção. É
inaceitável que setores da oposição, setores da sociedade brasileira digam
essas coisas que na verdade são consequência de não aceitarem que foram
derrotados nas eleições. Isso é desconhecer o voto popular, isso é golpismo”.
Petróleo,
Rússia e Brics
“Eu
não sei se este escândalo é em represália pela participação brasileira nos
Brics, o que sei é que a posição do Brasil nos Brics é algo que os Estados Unidos
e a Europa olham atentamente. Quando alguém fala com funcionários
internacionais, contam as pressões que o Brasil sofreu relacionadas ao banco de
fomento e ao acordo do fundo de contingências dos Brics, que é uma espécie de
novo FMI (acordos assinados neste ano na cúpula dos Brics de Fortaleza).
Se
este fundo já estivesse em funcionamento hoje, talvez pudessem mitigar as
pressões cambiais que a Rússia sofre e que estão afetando o Brasil também. As
pressões de certos grupos são fortíssimas para que o Brasil se separe dos Brics
e também do Mercosul, que estará reunido nesses dias na Argentina. E querem
empurrar o Brasil para fazer um acordo com a União Europeia, que eu chamo de
‘volume morto da economia mundial’. “Eu não digo que é preciso se separar dos
Estados Unidos e da União Europeia”.
Petrobras
e empreiteiras
“O
peso da Petrobras e das empreiteiras na formação de capital fixo é fundamental
no Brasil, então o que eu tenho manifestado é o temor de uma paralisia
maior na economia.” Existe o risco de que seja introduzido um fator depressivo
em uma economia que se está comprometendo o corte de gastos e a austeridade com
o novo governo.
É
preciso saber discernir entre os eventuais crimes que tenham ocorrido e
permitir que as empresas empreiteiras continuem operando porque não é possível
substituí-las. “Elas têm uma memória técnica muito importante, participaram em
todas as grandes obras de infraestrutura desde o regime militar”.
“É
preciso evitar um problema sistêmico, se a Petrobras continuar neste impasse,
isto vai prejudicar as empresas provedoras da Petrobras, que já estão
estranguladas e não estão cobrando”.
Hipocrisia
“Há
muita hipocrisia no modo como a mídia trata a crise no Brasil. Fala-se com
muito alarmismo da Petrobras e não se diz como agiram os norte-americanos
diante da crise do subprime, foi um problema muito maior que o da Petrobras.
Alguns bancos receberam multas pesadas, alguns executivos foram sancionados
penalmente, foram menos do que aqui, mas ao final, os americanos preservaram as
estruturas.
O
Congresso introduziu mudanças nas leis financeiras para proteger os bancos e os
depósitos. Foi um projeto redigido pelo Citigroup. E, frente a tudo isto,
ninguém se escandaliza e ninguém fala de corrupção”.
Abutres
“Quando
a justiça dos Estados Unidos intervém na crise da Petrobras diante das demandas
dos advogados que patrocinam os acionistas, estamos vendo um procedimento
estranho, parecido com o que aconteceu com os fundos abutres e a Argentina.
Claro
que há acionistas da Petrobras na Bolsa de Nova York, os ADR são emitidos em
Nova York, mas acredito que tudo isto seja um pretexto para poder levar o caso
à justiça norte-americana”.
Capitalização
estatal
“O
governo teria que capitalizar a empresa, que está muito desvalorizada, seu
valor de mercado está muito longe de seu valor patrimonial. O preço das ações
da Petrobras está diminuindo aceleradamente porque as bolsas se movem seguindo
as expectativas de curto prazo, e eu acredito que se enxergassem em longo
prazo, o prelo das ações não teria uma queda tão significativa”.
Polícia
“As
estruturas encarregadas de “vigiar e punir”, como dizia Foucault, como é a
polícia federal, agem sem cuidar das estruturas empresariais fundamentais.
Isso é
inevitável no Brasil. Aqui, a Polícia Federal e as polícias estaduais estiveram
sempre sintonizadas com certos grupos políticos, com a imprensa e com setores
do Poder Judiciário. É assim que o sistema funciona, e os membros da polícia
atuam individualmente seguindo esta lógica. Não é pela maldade ou pela vontade
deste ou daquele delegado, é o mecanismo existente que faz com que a
investigação seja feita sem que se leve em conta as consequências que isso terá
para o conjunto da sociedade”.
Globo
“O que
se lê na cobertura do Globo é que eles querem transformar o regime de partilha
que está em vigor pelo de concessão que se aplicava antes. Mas não se justifica
um regime de concessão porque agora não há riscos para os privados porque as
reservas já estão descobertas, seus recursos já estão estimados. E tudo isto é
para tirar o controle da exploração da Petrobras e passar para as empresas
petroleiras estrangeiras. Acredito que também querem trazer as construtoras
estrangeiras, em especial as construtoras norte-americanas.
Esses
grupos de imprensa sempre atacaram a Petrobras, desde a sua criação (1953).
Toda a
imprensa brasileira, salvo o jornal Última Hora, esteve visceralmente contra a
Petrobras e atacou a campanha “O Petróleo é Nosso”.
(As
palavras de Belluzzo sobre o lobby da Globo a favor das empreiteiras
norte-americanas ficaram em evidência em uma coluna de Carlos Alberto
Sardenberg, que propôs a formação de um programa similar ao PROER dos anos 90,
para socorrer e depurar as empreiteiras e ao mesmo tempo permitir que estas se
associem a empresas estrangeiras).
Maria
das Graças Foster
“Acredito
que não possamos subestimar o problema da corrupção na Petrobras, que mostra que
houve falta de controle de suas autoridades. Essa corrupção enfraquece a
empresa. Tenho a melhor impressão de Maria das Graças Foster, acredito que ela
não esteja envolvida em nada, mas me parece que a direção da Petrobras deveria
sair para conter a crise. Acredito que ela deveria ser substituída por um
empresário ou por um militar.
Vou
lembrar algo que parece meio desagradável, mas a verdade é que o Exército
sempre teve um compromisso com o petróleo, por isso eu designaria uma militar
democrata sério para administrar a Petrobras, isso daria credibilidade.
Há
muitos militares democráticos?, perguntou Carta Maior.
“Sim,
há. É preciso lembrar que o processo de criação da Petrobras contou com o apoio
do exército. O golpe de 64 fez com que esses militares nacionalistas perdessem
peso. Não se pode generalizar quando se fala dos militares. Depois do golpe,
houve um grupo comprometido com a tortura, mas houve outro grupo que não
estava. Por isso acredito que haja militares nacionalistas que agora podem dar
uma contribuição com a Petrobras”.
Se gostou deste post subscreva o nosso RSS Feed ou siga-nos no Twitter para acompanhar nossas atualizações
*
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Olá!
Bem vindo, a sua opinião é muito importante.