sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Falando mal da corrupção do outro ou a indignação cívica pelas metades

O que me inspirou a escrever este artigo foi a manchete de uma notícia que saiu no Correio do Brasil, em junho último, com o titulo: Sonegação no País alcança a marca de R$415 bilhões no ano, que você pode conferir em link, no final.

Quando se vê o furor com que muita gente se indigna com a corrupção dos outros, daria para inferir que todos agem corretamente, não sonegam os seus impostos devidos ou não usam de qualquer tipo de jeitinho para se dar bem em uma transação ou negocio, por mais simples ou pequeno que seja.

É costume alegar que é coisa pequena, de pouca importância, mas, o fato é que, o que determina o delito, porque é um delito, não é o seu volume ou valor da transação, mas, sim a atitude de usar um recurso ilícito para se dar bem, daí para uma corrupção “das grossas”, destas que causam revolta e até saem nos jornais, é só uma questão de escala e de oportunidade.

Um dia antes do “Voto de Minerva” do ministro Celso de Mello, no STF, desempatando a disputa pela concessão ou não do direito de defesa previsto na Constituição Federal, os tais “Embargos Infringentes”, para alguns réus no processo da Ação Penal 470, vulgo “mensalão”, eu tomei um taxi na hora do “rush”, e acabei passando um bom tempo no trânsito, o que acabou levando a uma conversa com o motorista.

Ele começou falando mal do trânsito, sobretudo dos próprios motoristas “sem educação”, da falta de punição para os infratores, sobrando também para a prefeitura que não organizaria a circulação dos veículos de forma adequada.

Conversa vai, conversa vem, acabamos por “cair” na polêmica do dia. Juro que foi por iniciativa dele, que já vinha indignado com a sua lista de reclamações e sugestões aos órgãos públicos.

Confesso que tive pouca oportunidade de colocar o que achava do imbróglio jurídico, e ele continuou no mesmo pique, até levemente inflamado com a própria oratória, com seus argumentos sobre a corrupção e os corruptos. Detonou a política, o governo, a justiça, e, lá pelas tantas, quando falei algo sobre a falta de informação exata sobre o que andava rolando e que nós precisávamos nos informar sempre para entendermos as coisas, ele, “en passant”, disse que deixou a faculdade no final, que se cansou, Et Cetera e tal.

Acho que para atestar que era um cara instruído.
 
Quando alguém “dando uma de esperto” avançou o sinal, ele interrompeu o que falava para apontar o “delito” do motorista. Desceu o pau, como se diz.

Mas, encurtando a conversa, ele me contou pouco depois, que também só para no sinal por causa das tais câmeras nas sinaleiras, que já tinha tido a carteira suspensa por um mês, mas que dirigiu normalmente – sem a carteira, é claro – mas que agora tomava cuidado para não avançar onde sabia que tinha câmeras.

Então. Esta atitude do “taxeiro” é bastante comum. Não só de “taxeiros”, é claro! Nós estamos “carecas” de ver e saber. A lei só passa a valer, ou a sua observância, quando existem chances concretas de “ser pego”, no mais, sempre se dá um jeitinho.

E tome-lhe falar do rabo do outro, sendo que se está sentado no próprio rabo, como bem ilustra o ditado popular.

Este caso do julgamento do “mensalão” é emblemático. Muita gente não iria se sentir à vontade para “atirar a primeira pedra” se o desafio fosse mesmo pra valer. Não é verdade?

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