sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Ditabranda,‭ ‬o que é isso‭?

A Folha de São Paulo acaba de comemorar em alto estilo os seus‭ ‬90‭ ‬anos de serviços prestados aos setores dominantes do país,‭ ‬com um histórico de luta contra os interesses da população e dos seus representantes legítimos,‭ ‬como o fez nestes‭ ‬8‭ ‬anos do governo Lula,‭ ‬contra quem investiu pesado‭  ‬e se viu derrotada,‭ ‬o que prova a verdade que se recusa a ver,‭ ‬que o seu pretenso papel de voz‭  ‬do povo é uma balela que nem ele mesmo acredita.

Ditabranda,‭ ‬o que significa mesmo isso‭? ‬Por obra da inventividade,‭ ‬até certo ponto conveniente e/ou oportuna,‭ ‬da‭ ‬Folha de São Paulo,‭ ‬a expressão se refere à pretensa‭ “‬brandura‭”  ‬ou leveza da‭ ‬ditadura militar no país.

Conveniente e oportuna porque ao dito jornal não é deixado esquecer a sua contribuição e apoio,‭ ‬não só editorial,‭ ‬mas,‭ ‬logístico,‭ ‬mesmo,‭ ‬com a cessão de veículos aos agentes do arbítrio e da repressão.

A expressão tenta utilizar como atenuante dos anos de chumbo da‭ ‬ditadura militar no Brasil,‭ ‬um argumento‭ – ‬como poderia dizer‭?  – ‬estatístico‭? ‬É que enquanto no país,‭ “‬só‭” ‬474‭ ‬opositores forma mortos ou‭ “‬desaparecidos‭”‬,‭ ‬no Chile foram‭ ‬7‭ ‬mil e,‭ ‬na Argentina,‭ ‬algo em torno de‭ ‬30‭ ‬mil mortos ou‭ “‬desaparecidos.

A estatística talvez atenue o sentimento de culpa,‭ ‬política e social‭ – ‬se é que existe‭ – ‬de um membro atuante como o jornal,‭ ‬mas,‭ ‬quem perdeu companheiros,‭ ‬filhos,‭ ‬amigos,‭ ‬pais e parentes,‭ ‬uma morte é mais do que um dado estatístico,‭ ‬e suficiente para qualificar o ato abominável,‭ ‬notadamente,‭ ‬no contexto em que ocorreu.

A‭ “‬mania‭” ‬recorrente de tentar traduzir a realidade,‭ ‬o fato,‭ ‬pelos números,‭ ‬nos acostuma a considerar que a morte ou o morrer é muito relativo,‭ ‬principalmente quando o caso não tem nada a ver conosco ou com nossos familiares.

Logo,‭ ‬o‭ “‬ditabranda‭”‬,‭ ‬é a tentativa do jornal de exorcizar os seus próprios fantasmas ou demônios,‭ ‬pelo menos para‭ “‬inglês ver‭”‬,‭ ‬já que,‭ ‬na prática,‭ ‬ele continua o mesmo,‭ ‬é só uma questão de contexto histórico.


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