O Noam Chomsky ou simplesmente Chomsky, dispensa maiores
apresentações mesmo fora de sua ‘área original’, a linguística onde é uma referência
mundial, suas idéias e textos tem se destacado na análise e crítica ao neoliberalismo
mundial e sua política imperialista via “matriz norte-americana”, firmando-se
como referência, também, nesta área.
Já publicamos aqui alguns textos seus, notadamente,
na área de comunicação/mídia, o que tem ajudado a decodificar a tal mídia
moderna, seus métodos, embora preservem o “modelo básico” com seus conteúdos manipuladores
e alienantes de sempre, e até de forma mais eficiente e precisa.
Este texto/entrevista abaixo não é novo, e de 2014, mas atual e vale
à pena dar uma conferida.
"Noam Chomsky: "A era digital não muda a missão da imprensa livre"
México - La Jornada - [Tradução
do Diário Liberdade] A era digital não muda o essencial, a missão da mídia
comprometida e independiente, sobretudo em momentos em que se requer uma
cidadania consciente e comprometida para responder aos sistemas de poder que
levam o mundo à fronteira de um desastre apocalíptico, comentou Noam Chomsky em
entrevista com "La Jornada".
Apesar do sombrio
panorama que pinta a conjuntura atual, Chomsky assinala que alguns raios de luz
de esperança para o mundo provêm de mudanças históricas na América Latina.
Chomsky, o
intelectual vivo mais citado no planeta e um dos 10 mais citados na história, é
um feroz crítico do modelo neoliberal, das políticas imperiais dos Estados
Unidos e de Israel contra o povo palestino, assim como do uso e abuso da
comunicação e da imprensa.
No âmbito
acadêmico, Chomsky não só é considerado o pai da linguística moderna, se não
que como professor emérito do Instituto Tecnológico de Massachusetts também tem
se destacado por suas contribuições à filosofia e às ciências sociais.
Profundamente
convencido que dizer a verdade diante do poder é obrigação moral, Chomsky
desnuda o imperador todos os dias e ainda é, com seus 85 anos, um dos poucos intelectuais
confiáveis e respeitados pelas novas gerações, apesar de que está virtualmente
vetado pelos meios massivos tradicionais em seu país e em outros. Portanto, é
um homem perigoso para o poder, e por isso segue sendo uma voz vital para o
presente e o futuro.
Chomsky, colaborador
de "La Jornada" durante vários anos, ofereceu suas reflexões sobre
aspectos da conjuntura em uma entrevista com o motivo do aniversario deste
periódico.
– Como percebe o que alguns chamam mudanças revolucionárias no panorama da mídia com o surgimento do mundo digital, e que, segundo argumentam alguns, prometeu democratizar o jornalismo e abrir uma era de comunicação informação massiva? Alguma coisa mudou?
– Claro que
existem mudanças, mas acredito que o fundamental permanece igual. A internet
sem dúvida oferece uma oportunidade de acesso a uma rica variedade de
informação e análise, como a produção deste tipo de material, com maior
facilidade que antes. Também oferece oportunidades para a diversão, a
distração, a formação de pessoas cultas, o pensamento descuidado, navegar sem
propósito claro e muito mais. Uma boa biblioteca pode oferecer uma oportunidade
para que alguém se converta em um biólogo criativo ou um leitor sensível da
grande literatura, ou para perder o tempo. Depende de como alguém escolhe usar
o que está disponível. Os resultados [da nova era digital] são mistos.
"Para
organizadores e ativistas, a internet tem sido uma ferramenta indispensável.
Porem aqui requer-se também una nota de cautela. Um dos observadores mais
astutos e informados do tumulto no mundo árabe, Patrick Cockburn, escreve que
durante os levantamentos da primavera árabe, 'membros da intelectualidade e [frequentemente]
pareciam viver e pensar dentro da câmara de ecos da Internet. Poucos expressaram
ideias praticas sobre como ir adiante' ou, poderíamos agregar, aprestaram
suficiente atenção às realidades políticas, de classe ou militares. Os
resultados aí estão a vista, e essas lições podem ser generalizadas.
– Qual deveria ser o papel da mídia progressista neste contexto?
–Todos
permanecemos dependentes das reportagens diretas de jornalistas valentes e
honestos, os que fazem seu trabalho com integridade. Nenhuma tecnologia vai
mudar isso. O papel da mídia progressista é o mesmo de sempre: tentar buscar a
verdade em assuntos de importância, romper a onda de propaganda e engano que
está enraizada nos sistemas de poder e oferecer os meios para que as pessoas
possam avançar nas lutas por liberdade, justiça e até a sobrevivência frente às
ameaças sinistras.
– Você insiste em abordar os efeitos devastadores das políticas do governo dos Estados Unidos e do mundo empresarial, as quais se manifestam em guerras e injustiças sociais e econômicas, e mais recentemente advertiu que isto está chegando a um ponto em que estamos pondo em risco a sobrevivência mesma da civilização. Para aqueles que observam os Estados Unidos e a América Latina neste momento, quais são os desafios mais básicos que enfrentam hoje em dia? Onde percebe o potencial maior para uma resposta diante desses desafios?
– As ameaças
são muito reais. A ameaça de destruição por uma guerra nuclear está sempre
presente, e o histórico é atemorizante. O mesmo é certo, talvez ainda com mais proeminência,
acerca das ameaças de uma catástrofe ambiental. Pela primeira vez na historia
humana estamos frente às possibilidades de destruir as condições de uma
sobrevivência decente, e os sistemas de poder estão nos levando a esse
precipício.
"No
entanto, existem sinais alentadores, em grande medida na América Latina, já que
o que tem ocorrido em anos recentes tem um significado verdadeiramente
histórico. Pela primeira vez em 500 anos, países da América Latina tem dado
passos muito sérios em direção à integração e à independência do poder imperial
estrangeiros (no século passado representado principalmente pelos Estados
Unidos).
"As
mudanças, que são espetaculares, revelam-se de várias maneiras. Não faz muito
tempo, América Latina era o 'quintal' de Washington. Os países faziam o que
lhes ordenava, ou, se saíam desta linha, eram submetidos a golpes militares,
terror assassinato e destruição. Porém agora, em conferências hemisféricas,
Estados Unidos e Canadá estão virtualmente ilhados.
"Un estudio reciente de los programas de rendición
extraordinariade la Agencia Central de Inteligencia (CIA), una de las formas
más salvajes y cobardes de tortura, encontró que colaboró gran parte del mundo,
incluida Europa, pero había una excepción: América Latina. Esto es doblemente
notable: primero, por la subordinación histórica de la región a Washington, y
segundo, porque durante ese periodo [de subordinación] la región era uno de los
centros de tortura del mundo.
"Por
outro lado, segundo o Tratado de Tlatelolco, América Latina é uma das poucas regiões
do mundo com uma zona livre de armas nucleares.
"Em
outra área, com comunidades indígenas frequentemente como líderes, vários
países latino-americanos tem dado passos significativos para reconhecer os direitos
da natureza e buscar economias sustentáveis que freiem a precipitação para um
desastre ambiental.
"Tudo
isto é dramático e promissor, ainda que não sem falhas e com problemas sérios.
Os desafios
que enfrentamos hoje são imensos. O maior potencial [para uma resposta] é uma cidadania
ativa e comprometida. Não existe muito tempo para perder.
– O que te faz rir hoje em dia?
– Na cultura judia
que cresci, existe um conceito de risada através de lágrimas. Lamentavelmente,
o mundo oferece muitas oportunidades para esta prática.
Porém
existem muitos raios de luz, e amplas razões para esperar que um mundo melhor é
possível, como o Foro Social Mundial e seus ramos nos recordam continuamente. E
não é acidental que suas raízes são latino-americanas.
Categoria: Batalha de ideias
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