Apresentada
como sendo um sinal da crise brasileira, pouca atenção se dá ao fato de que a
crise do HSBC nada tem a ver com nosso país e, sequer, é motivada pelo
enfraquecimento da instituição com a revelação – oh! – de que mantinha contas
irregulares na Suíça, cujos titulares são zelosamente protegidos por uma
“ética” jornalística que se gradua pela renda e pela orientação política de
quem desliza para fora da lei.
A
crise do banco é muito profunda e vem desde 2008, quando
teve perdas imensas com a crise mundial – calculadas em US$ 18,7
bilhões no mercado norte-americano – e começou a “passar a tesoura” em seus
negócios e, claro, em seus funcionários.
Ali
começava a história do “fim” – ao menos como grande banco de varejo – do
braço brasileiro do chamado “banco do ópio”, que nasceu nas possessões inglesas
Hong Kong e Xanghai, em 1865, para financiar a colheita e o
comércio de ópio na China e na Índia, liberado após a Guerra do Ópio, terminada
pouco anos antes, com a ocupação de Pequim por tropas inglesas e a imposição
do Tratado de Tianjin, que liberou o tráfico de ópio – consumido em grande
escala pelos chineses – e a entrada de “missionários”. Tianjin faz parte do que
os chineses chamam de “tratados iníquos” e do “século da humilhação”.
Ironico
que, 150 anos depois, durante a primeira década do século 21, o banco
tenha voltado a se envolver com o tráfico de drogas, como revelou a
investigação do Senado dos EUA que a fez reconhecer que lavava dinheiro dos barões mexicanos
da cocaína.
O
HSBC, que nasceu sob as bênçãos de FHC, com a liquidação do Bamerindus, vai ser
agora disputado ferozmente pelo Bradesco, pelo Santander e pelo Itaú, salvo se
surgir um estrangeiro como Citibank ou o banco do bilionário Carlos Slim, o
Inbursa.
Com
ele, o comprador leva pouco mais de 2% do mercado bancário brasileiro, a sétima
fatia do setor e uma clientela física de alta renda (um quarto dos
negócio do HSBC), a única em que o escândalo da Suíça – legalmente encerrado,
com o pagamento de indenização ao país, coisa que aqui acham pecado e lá uma
virtude – pode ter, de fato, alguma perda de prestígio.
Não é,
portanto, um reflexo da “perda de confiança” no Brasil.
É
parte de um corte de US$ 140 bilhões na sua divisão de global banking & markets.
Um
pedaço de carne financeira pelo qual a banca privada saliva de apetite, porque
dinheiro é – e sempre foi – a mais ansiosa substância alucinógena.
Por Fernando Brito
Título
original: Fuga do HSBC
é crise que vem de longe. Faz tempo que o banco do ópio vai muito mal
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