quarta-feira, 6 de agosto de 2014

Até quando “desce o pau” em algo ou alguém no Facebook, você está lhe fazendo um grande favor


Compartilhar para falar mal. Apenas parem

Ao compartilhar no Facebook conteúdo dos quais você não gosta, mesmo que para criticar, você legitima o veículo ou colunista como um pólo de discussão

Por Lino Bocchini — publicado 05/08/2014 09:24, última modificação 05/08/2014 10:30
“Que capa absurda! Vou denunciar pra todo mundo que a revista X é mentirosa!”
“Ridícula essa reportagem da Tv Y, é muito tendenciosa! Vou descer o pau!”
“Esse colunista fulano é um imbecil! Vou acabar com ele no meu perfil!”
Pode apostar: a revista X, a Tv Y e o colunista fulano agradecem de coração a sua divulgação. Graças a atitudes assim eles seguem firmes no centro do debate. Tanto faz se quem divulgou os aprova ou critica. A cada clique no “compartilhar” do Facebook eles pautam mais gente, inclusive você e a sua rede de conhecidos.

E não interessa o comentário que acompanha o link. Compartilhar é reconhecer a importância. É legitimar. A mensagem passada para toda a sua rede de conhecidos é: esse veículo (ou articulista) é o fórum adequado para se debater determinado assunto. Pouco importa se as opiniões serão, em sua maioria, contrárias ou favoráveis. O que interessa é que inevitavelmente todo debate se dará a partir do ponto de vista da revista X, da Tv Y ou do colunista fulano.

Eles serão o ponto de partida, e tudo o que vier a seguir vai girar em torno deles.

Alguns dirão: “Mas agora existem encurtadores que criam um link que não gera audiência para o site tal. Então posso espalhar à vontade o conteúdo que o fulano não vai ganhar nenhum clique a mais.”

Verdade. É o que faz, por exemplo, o popular Naofo.de, que tem o sugestivo slogan “Encurtador higiênico de chorume”. Ao usar esse serviço e seus similares, seus contatos verão o conteúdo sem, entretanto, dar audiência para o site-destino. Funciona assim: a ferramenta gera uma cópia idêntica à página que você quer divulgar. Gera também um link encurtado para essa cópia. É ele que você usará para espalhar o conteúdo. 

Ao clicar no link, seus amigos verão uma página igualzinha ao endereço original, só que o site real não ganha nenhum acesso.

A invenção é interessante, mas ela embute uma armadilha.

Acontece que, com o advento destes encurtadores “higiênicos”, as pessoas estão sentindo-se ainda mais estimuladas a divulgar “chorume”. É um efeito colateral terrível que, ao invés de tornar um ambiente como o Facebook mais habitável, acaba poluindo ainda mais as chamadas linhas do tempo da rede social. E, de quebra, dá ainda mais cartaz e respaldo para quem você não gosta.

Evitar dar audiência é o de menos. O ponto central é o seu aval. E ele segue intacto, com ou sem o repasse da audiência.

Por outro lado, é compreensível o argumento de que às vezes “não dá para aguentar”. Em alguns casos o conteúdo nos revolta tanto que nos sentimos “obrigados” a criticá-lo publicamente.

Para esses momentos de crise, sugiro um exercício que leva poucos segundos e é de extremo valor: da próxima vez que for clicar no “compartilhar” do seu Facebook, pare, respire por 3 segundos e se faça a seguinte pergunta: “essa pessoa ou veículo merece MESMO ainda mais divulgação e ainda mais legitimidade entre os meus amigos, familiares e colegas de trabalho?”.

Em geral, não vale a pena.

Acredite, nesse caso o dito popular “falem mal, mas falem de mim” funciona. E muito. Já passou da hora de mudar de estratégia. Basta lembrar qual a TV, o jornal, a rádio ou a revista mais poderosa do Brasil. Qual sua opinião sobre elas? 

Publicado  em Carta Capital
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