Compartilhar
para falar mal. Apenas parem
Ao
compartilhar no Facebook conteúdo dos quais você não gosta, mesmo que para
criticar, você legitima o veículo ou colunista como um pólo de discussão
Por Lino Bocchini
— publicado 05/08/2014 09:24, última modificação 05/08/2014 10:30
“Que capa absurda! Vou denunciar pra todo mundo que a revista X é mentirosa!”
“Ridícula essa reportagem da Tv Y, é muito tendenciosa! Vou descer o pau!”
“Esse colunista fulano é um imbecil! Vou acabar com ele no meu perfil!”
Pode
apostar: a revista X, a Tv Y e o colunista fulano agradecem de coração a sua
divulgação. Graças a atitudes assim eles seguem firmes no centro do debate.
Tanto faz se quem divulgou os aprova ou critica. A cada clique no
“compartilhar” do Facebook eles pautam mais gente, inclusive você e a sua rede
de conhecidos.
E não
interessa o comentário que acompanha o link. Compartilhar é reconhecer a
importância. É legitimar. A mensagem passada para toda a sua rede de conhecidos
é: esse veículo (ou articulista) é o fórum adequado para se debater determinado
assunto. Pouco importa se as opiniões serão, em sua maioria, contrárias ou
favoráveis. O que interessa é que inevitavelmente todo debate se dará a partir
do ponto de vista da revista X, da Tv Y ou do colunista fulano.
Eles
serão o ponto de partida, e tudo o que vier a seguir vai girar em torno deles.
Alguns
dirão: “Mas agora existem encurtadores que criam um link que não gera audiência
para o site tal. Então posso espalhar à vontade o conteúdo que o fulano não vai
ganhar nenhum clique a mais.”
Verdade.
É o que faz, por exemplo, o popular Naofo.de, que tem o sugestivo slogan
“Encurtador higiênico de chorume”. Ao usar esse serviço e seus similares, seus
contatos verão o conteúdo sem, entretanto, dar audiência para o site-destino.
Funciona assim: a ferramenta gera uma cópia idêntica à página que você quer
divulgar. Gera também um link encurtado para essa cópia. É ele que você usará
para espalhar o conteúdo.
Ao clicar no link, seus amigos verão uma página
igualzinha ao endereço original, só que o site real não ganha nenhum acesso.
A
invenção é interessante, mas ela embute uma armadilha.
Acontece
que, com o advento destes encurtadores “higiênicos”, as pessoas estão sentindo-se
ainda mais estimuladas a divulgar “chorume”. É um efeito colateral terrível
que, ao invés de tornar um ambiente como o Facebook mais habitável, acaba
poluindo ainda mais as chamadas linhas do tempo da rede social. E, de quebra,
dá ainda mais cartaz e respaldo para quem você não gosta.
Evitar
dar audiência é o de menos. O ponto central é o seu aval. E ele segue intacto,
com ou sem o repasse da audiência.
Por
outro lado, é compreensível o argumento de que às vezes “não dá para aguentar”.
Em alguns casos o conteúdo nos revolta tanto que nos sentimos “obrigados” a
criticá-lo publicamente.
Para
esses momentos de crise, sugiro um exercício que leva poucos segundos e é de
extremo valor: da próxima vez que for clicar no “compartilhar” do seu Facebook,
pare, respire por 3 segundos e se faça a seguinte pergunta: “essa pessoa ou
veículo merece MESMO ainda mais divulgação e ainda mais legitimidade entre os
meus amigos, familiares e colegas de trabalho?”.
Em
geral, não vale a pena.
Acredite,
nesse caso o dito popular “falem mal, mas falem de mim” funciona. E muito. Já
passou da hora de mudar de estratégia. Basta lembrar qual a TV, o jornal, a
rádio ou a revista mais poderosa do Brasil. Qual sua opinião sobre elas?
Publicado em Carta Capital
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