Seria uma reforma política bem oportuna
para a “turma do Lava-Jato”, já que
assim preservariam o “foro privilegiado” e se safariam da ‘justiça
comum’, já que temos a comum e a especial. A especial para seres que elegemos
como ‘especiais’, pode?
Daí ninguém querer perder a boquinha e ter que
pagar suas mazelas ilegais como um ‘comum’, haja vista que na tal reforma, com
as lista fechadas, os
atuais ‘especiais’, estariam em primeiro lugar, logo, seriam os primeiros a se
(re) elegerem.
Outro fator que está pesando é que, apesar
dos “currais eleitorais” que
garantem a perpetuidade de vários ‘especiais’ em seus cargos, eles podem não
funcionar a contento, já que muitos estão surgindo como verdadeiros “paus de galinheiro”, de tão embolados
com os meandros da corrupção e temem não ser reeleitos
nas regras eleitorais
atuais.
A proposta até poderia ser discutida, assim
como outras, no sentido de se aperfeiçoar o sistema de representatividade no país,
mas não na forma nem no momento em que está sendo colocado, o que caracteriza oportunismo
puro e só visa livrar a cara de muitos “locupletadores
da coisa pública”.
"Por que tantos políticos agora defendem voto em lista fechada e o que isso tem a ver com a Lava-Jato?
Enquanto a Procuradoria
Geral da República finalizava e encaminhava ao Supremo Tribunal Federal dezenas
de pedidos de investigação contra políticos com foro privilegiado na semana
passada, multiplicavam-se em Brasília as conversas entre autoridades para articular
uma proposta de reforma política.
Dessa articulação,
ganhou fôlego a proposta de mudar a forma como elegemos os deputados federais,
estaduais e vereadores no país, para um sistema de “lista fechada”. Nesse
modelo, os eleitores votam no partido em vez de escolherem candidatos avulsos,
e os votos são depois distribuídos de acordo com uma ordem de candidatos
previamente definida pela legenda.
Os defensores da
mudança dizem que ela é necessária para tornar as campanhas mais baratas e mais
fáceis de fiscalizar, tendo em vista que as doações de empresas – alvo de
escrutínio na Operação Lava-Jato – estão proibidas por decisão do STF.
O modelo é adotado em
29 países no mundo, segundo o cientista político e professor da Universidade
Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Jairo Nicolau, referência no assunto. Entre
eles estão Espanha, Portugal, Israel, Turquia, África do Sul, Argentina e
Uruguai.
Para opositores da
ideia, no entanto, a proposta tem como objetivo facilitar a reeleição dos
parlamentares, muitos desgastados pelas denúncias da Lava-Jato, evitando assim
a perda da prerrogativa de foro. Essa percepção foi reforçada pelo fato de
alguns congressistas terem defendido que políticos que já tenham mandato sejam
os primeiros nas listas dos partidos.
“Acreditamos que a
solução será estabelecer que, nesta primeira eleição, em 2018, os deputados
terão prioridade na lista”, disse o presidente do DEM, senador José Agripino
Maia, ao portal Poder 360.
“Sou radicalmente
contra a lista fechada, porque ela promove a impunidade da turma da Lava-Jato
que não quer perder o foro privilegiado”, tuitou, por sua vez, o presidente do
PTB, Roberto Jefferson, político que já cumpriu pena por condenação no esquema
do “mensalão”.
As conversas em torno
da proposta começaram no fim de semana. Segundo a imprensa brasileira, a
questão foi debatida no domingo, dia 19/1, em um almoço na casa do presidente
da Câmara, Rodrigo Maia (DEM), que comemorou o aniversário do senador José
Serra (PSDB/MG) e do ministro da Secretaria de Governo, Antônio Imbassahy
(PSDB).
O presidente do
Tribunal Superior Eleitoral, Gilmar Mendes, participou da comemoração e, em
seguida, se reuniu no Palácio do Jaburu com o presidente Michel Temer. O tema
do encontro foi reforma política.
Já na quarta-feira,
Temer, Mendes, Rodrigo Maia e o presidente do Senado, Eunício Oliveira, se
reuniram oficialmente no Palácio do Planalto. Na saída do encontro, os
participantes defenderam a lista fechada.
“Não adianta nada falar
de criar um sistema público de financiamento com o sistema que temos hoje de
lista aberta”, afirmou Mendes.
“Não consigo entender
como vamos fazer financiamento de campanha público se não tiver lista fechada”,
disse também o presidente do Senado.
Rodrigo Maia, por sua
vez, reconheceu que priorizar na lista políticos que já tenham mandato tende a
gerar resistência da população à proposta.
Vantagens e
desvantagens
Cientistas políticos
consideram que todos os sistemas eleitorais podem trazer vantagens e
desvantagens.
No caso da lista
fechada, ela possibilita fortalecer os partidos (já que os candidatos fazem
campanha unidos pela legenda) e tende a dar mais coerência ideológica à atuação
dos parlamentares. Por outro lado, pode distanciar os congressistas dos
eleitores e dar poder excessivo aos líderes partidários na formulação da lista.
“Em alguns casos, a
lista fechada pode representar a possibilidade de o eleitor ter mais clareza de
qual partido efetivamente corresponde ao que ele aspira, ao que ele quer na
política. Já na lista aberta (caso do Brasil hoje) o voto é despolitizado. É um
voto personalizado, não ao programa do partido”, nota o cientista político José
Álvaro Moisés, professor da USP.
“Isso ocorre em tese.
No caso concreto do Brasil, a maioria dos partidos não tem perfil programático
e ideológico claro”, ressalta.
Para Moisés, a defesa
da proposta nesse momento parece mais uma “estratégia de autodefesa” do que uma
tentativa de aperfeiçoar o sistema.
“Como é que eles se
defenderiam? Eles se defenderiam ao conseguirem a manutenção do foro
privilegiado”, ressalta.
Em um estudo de 2011
sobre o tema, o consultor da Câmara dos Deputados Luiz Henrique Vogel nota que
problema semelhante ocorreu na Espanha: “Na década de 1990, o partido (PSOE)
decidiu colocar em uma das primeiras posições da lista o ministro do interior,
José Barrionuevo, investigado por seu papel na ‘guerra suja’ contra os grupos
militantes no país Basco, assegurando, assim, sua imunidade parlamentar e foro
privilegiado em eventual processo judicial”.
Sistemas
mistos
Além do sistema de lista fechada, há também países que adotam listas flexíveis. É o caso de Áustria, Bélgica, Dinamarca, Holanda, Grécia, Noruega e Suécia, exemplifica Vogel, em seu estudo.
No caso da Bélgica, o
eleitor pode escolher votar na lista do partido ou em um candidato avulso.
Ambos os votos vão ser somados e usados para definir o número de cadeiras que a
legenda terá direito no Parlamento. No entanto, na hora de definir os eleitos,
nomes mais embaixo da lista poderão pegar a vaga daqueles do topo caso tenham
atraído mais votos diretos.
Na prática, porém,
apenas 1% consegue se eleger por voto nominal, aponta o estudo, pois os
eleitores em geral escolhem os primeiros da lista, nomes que já são mais
conhecidos.
Já na Noruega, o
eleitor pode reordenar a lista, indicando sua ordem de preferência dos
candidatos. Isso gera um sistema de pontuação que pode ter efeito de mudar a
posição dos concorrentes na lista.
O PT historicamente tem
sido um defensor do sistema de lista fechada. O senador Humberto Costa (PT/PE),
porém, disse à BBC Brasil que cresceu no partido a defesa por um sistema misto
e que não saberia dizer qual a posição oficial da legenda hoje.
Apesar da polêmica em
relação à Lava-Jato, ele defendeu a necessidade de se discutir a mudança.
“Nós vamos ter eleição
no ano que vem e é fundamental que a gente discuta esse tema. Se alguns têm
esse objetivo [de se proteger da Lava-Jato], não quer
dizer que a mudança vai se prestar a isso. Alguns estão dizendo que, se a lista
for fechada, vai dar prioridade a quem for parlamentar, mas pode ser que a lei
não aprove isso e diga que todos podem participar da lista”, afirmou.
Já o presidente do
PSDB, senador Aécio Neves, disse por meio de sua assessoria que o partido
continuará defendendo “o voto distrital misto de inspiração alemã”. Nesse caso,
explicou, metade das vagas é definida por voto distrital, ou seja, pelos
candidatos mais votados em cada distrito (regiões do estado ou município, por
exemplo) e a outra metade por lista fechada.
Outras
propostas
No sistema atual
brasileiro, os partidos disputam as vagas da Câmara dos Deputados e das
assembleias estaduais e municipais em coligações.
Dessa forma, quando o
eleitor escolhe um candidato, o voto vai para a coligação. Quanto mais votos
essa coligação receber, mais cadeiras terá direito de ocupar na Câmara Federal
ou nas assembleias. Depois de definido o número de cadeiras, elas são
distribuídas entre os candidatos mais votados da coligação.
Esse sistema estimula
campanhas mais caras e competição entre candidatos do mesmo partido ou
coligação, já que cada um precisa atrair votos para si para conseguir ser
eleito.
Outro problema é que as
coligações costumam reunir partidos sem coerência ideológica, de modo que seu
voto em um candidato X pode acabar elegendo um candidato Y com princípios
totalmente diferentes do que você queria eleger.
Para muitos cientistas
políticos, a proibição das coligações – uma mudança menos radical do atual
sistema – também teria efeito de fortalecer os partidos.
A maioria dos
especialistas também defende a aprovação de uma “cláusula de barreira”, com
objetivo de reduzir o número de partidos com relevância no país. Isso criaria
uma exigência mínima de votos para que o partido tenha acesso ao fundo
partidário e a tempo de propaganda na TV aberta.
Ambas as propostas
costumam enfrentar resistência dos partidos menores para ser aprovada no
Congresso.
Mariana
Schreiber, via BBC Brasil
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