B R I C S |
Como vai conferir – dá para inferir – no texto abaixo, do
iminente linguísta, filósofo e ativista
político norte-americano, Noam Chomsky, o Brasil – e a Argentina – surge como aliado (cujo
golpe foi programado, feito em conluio com o que de pior existe nos quadros políticos
e empresariais locais) visando fincar o pé por aqui no velho quintal que andava
se arvorando de país independente – a criação dos Brics atesta isso – em
momento crucial para a decadente
influencia dos EUA no mundo.
Lembre-se que os Brics é tudo
de ruim que poderia acontecer para os EUA, graças à participação de adversários/inimigos
de peso no cenário político e econômico internacional como a China, Rússia e Índia.
Rússia, Índia, Brasil, China e Africa do Sul |
Vai ser a ‘medida clássica’ do interino & corja. O esfriamento e
retirada funcional do Brasil do acordo que ameaçava, mais ainda, a hegemonia do
‘Big Brother’ do norte no mundo.
"O isolamento dos EUA, por Noam Chomsky
Noam Chomsky reflete sobre Israel, Trump e a Nova Ordem Mundial, uma
aliança entre estados autoritários que se parece estar a estruturar.
A 23 de dezembro de
2016, o Conselho de Segurança da ONU passou a Resolução 2334 por unanimidade,
com a abstenção dos EUA. A Resolução reafirmou "que a política e práticas
de Israel em estabelecer colonatos na Palestina e outros territórios Árabes
ocupados desde 1967 não tem legitimidade legal e constitui uma séria obstrução
para alcançar uma paz justa e compreensiva no médio oriente.
Chama novamente
Israel, como país ocupante, a cumprir escrupulosamente a Quarta Convenção de
Genebra (1949), a rescindir as medidas anteriores e a desistir de tomar
qualquer ação que pudesse resultar numa alteração de estatuto legal ou natureza
geográfica e afetar materialmente a composição demográfica dos territórios
árabes ocupados desde 1967, incluindo Jerusalém, e, em particular, para não
transferir parte da população civil para os territórios árabes ocupados."
Reafirmou. Uma palavra
com alguma importância.
É importante reconhecer
que a Resolução 2334 não tem nada de novo. A citação aqui referida é da
Resolução 446, de 12 de março de 1979, reiterada na essência na 2334. A
Resolução 446 passou com 12 votos contra zero e abstenção dos EUA, do Reino
Unido e da Noruega. A diferença essencial hoje é que os EUA estão sozinhos
contra o resto do mundo, e isso é um mundo de diferença. As violações das
ordens do Conselho de Segurança da ONU por parte de Israel, e violações da lei
internacional, são hoje bastante mais radicais do que em 1979 e estão a
levantar maior repúdio em boa parte do mundo. Os conteúdos da Resolução
446-2334 devem por isso ser levados mais seriamente. Daí a reação intensa
contra a 2334, tanto a cobertura como o comentário; e em Israel e nos EUA,
histeria considerável. Estes são indicadores evidentes do isolamento dos EUA no
palco mundial. Sob Obama. Com Trump, o isolamento dos EUA irá provavelmente
aumentar ainda mais, e de fato, já o fez, ainda antes de assumir a presidência.
A iniciativa de Trump
que mais contribuiu para aprofundar o isolamento dos EUA aconteceu a 8 de
novembro, quando ele ganhou duas vitórias. A vitória menor foi nos EUA, onde
ganhou o colégio eleitoral. A vitória maior foi no Marraquexe - Marrocos, onde
cerca de 200 nações estavam reunidas para tentar introduzir algum conteúdo nos
acordos de Paris de dezembro de 2015 sobre alterações climáticas, acordos que
foram deixados como intenções e não compromissos firmes devido à recusa do
Congresso dominado pelo Partido Republicano.
Enquanto os votos
eleitorais eram contados a 8 de novembro, a conferência em Marraquexe
afastou-se do seu programa substantivo para a questão de saber se era sequer
relevante lidar com uma severa ameaça de catástrofe ambiental agora que o país
mais poderoso na história se demitiu das suas responsabilidades. Isso,
seguramente, foi a maior vitória de Trump a 8 de novembro, um momento realmente
pivotal. O mundo coloca as suas esperanças na liderança da China agora que o
Líder do Mundo Livre declarou que não só irá se irá retirar dos acordos como,
com a eleição de Trump, irá acelerar dramaticamente a corrida para o desastre.
Um espetáculo
alucinante, que aconteceu quase sem qualquer comentário.
O fato de que os EUA
estão sozinhos em rejeitar o consenso internacional reafirmado pela Resolução
2334, perdendo o Reino Unido sob a liderança de Theresa May, é outro sinal de
crescente isolamento dos EUA.
Exatamente porque razão
Obama escolheu a abstenção em vez do veto é uma questão em aberto: não temos
provas diretas. Mas temos algumas explicações plausíveis. Tinha havido algumas
reações de surpresa (e ridículo) após o veto de Obama em fevereiro de 2011 à
Resolução da ONU que definia a implementação de política oficial dos EUA, e ele
pode ter sentido que seria demasiado repetir um momento semelhante se quer
salvar alguma parte do seu legado entre setores da população com alguma
preocupação por direito internacional e direitos humanos.
É útil relembrar que
entre os Democratas liberais, por oposição ao Congresso, e particularmente
entre os jovens, opinião sobre Israel e Palestina tem evoluído nos últimos anos
para a crítica às políticas de Israel, de tal forma que o núcleo de apoio a
Israel nos EUA transferiu-se para a extrema-direita, incluindo a base eleitoral
evangélica do Partido Republicano. Talvez estes tenham sido os fatores que
alteraram a posição de Obama.
A abstenção de 2016
suscitou furor em Israel e no Congresso dos EUA também, incluindo Republicanos
e Democratas, com propostas para retirar o financiamento à ONU em retaliação
pelo "crime". O primeiro-ministro israelita Netanyahu denunciou Obama
pelas suas ações "anti-Israel". O seu gabinete acusou Obama de
"manobrar" nos bastidores esta "emboscada" no Conselho de
Segurança, produzindo "provas" que dificilmente poderão ser
consideradas sequer humorísticas. O oficial israelita de topo acrescentou que a
abstenção "revelou a verdadeira face da administração Obama", e que
"agora podemos compreender com o que estivemos a lidar nos últimos oito
anos".
A realidade é um pouco
diferente. De fato, Obama ultrapassou todos os recordes no apoio a Israel,
tanto diplomaticamente como financeiramente. A realidade é descrita com
precisão pelo especialista do Financial Times no médio oriente, David Gardner:
"As relações pessoais entre Obama e Netanyahu podem ter sido venenosas, mas
ele foi o mais pró-Israel de todos os Presidentes dos EUA: o mais pródigo com
ajuda militar e consistentemente utilizando o veto dos EUA no Conselho de
Segurança... A eleição de Donald Trump até agora trouxe pouco mais do que tuites
virulentos sobre alguns assuntos geopolíticos. Mas os augúrios são ominosos. Um
governo irredentista em Israel e inclinado para a extrema-direita é agora
apoiado por uma administração populista e islamofóbica em Washington."
Num comentário
interessante e revelador, Netanyahu denunciou a "emboscada" do mundo
como prova de "preconceito do velho mundo contra Israel", uma frase
reminiscente dos comentários de Donald Rumsfeld sobre a distinção entre a
"Velha Europa - Nova Europa", em 2003.
Devemos relembrar que
os estados da Velha Europa era os maus, os principais estados europeus, que se deram
à arrogância de respeitarem a esmagadora maioria da opinião das suas populações
recusando juntar-se aos EUA no crime do século, a invasão do Iraque. Os estados
da Nova Europa eram os bons, que ignoraram uma maioria de opinião ainda maior e
obedeceram ao seu dono [os EUA]. O mais digno dos "bons" foi José
Maria Aznar, primeiro-ministro de Espanha, que ignorou oposição popular unânime
contra a guerra e foi recompensado com a honra de participar no anúncio da
invasão em conjunto com Blair e Bush.
Esta demonstração
transparente de total desprezo pela democracia passou virtualmente sem
cobertura noticiosa, compreensivelmente. A tarefa na altura era glorificar
Washington pela sua apaixonada dedicação pela democracia, como ilustrado pela
"promoção da democracia" no Iraque, que subitamente se tornou na
linha correta após a "única questão relevante" (vai ou não Saddam
entregar as armas de destruição maciça?) ter sido respondida no sentido inverso
ao desejado.
Netanyahu está a adotar
muito da mesma posição. O velho mundo que tem um preconceito contra Israel
corresponde a todo o Conselho de Segurança da ONU; mais especificamente,
corresponde a qualquer pessoa no mundo com o menor respeito por lei internacional
e direitos humanos. Para sorte da extrema-direita israelita, isso exclui o
Congresso dos EUA e - publicamente - o Presidente-eleito e os seus associados.
O governo israelita
está, obviamente, consciente destes desenvolvimentos. Por isso, está ativamente
a procurar transferir a sua base de apoio para estados autoritários como
Singapura, China ou a Índia da direita nacionalista Hindu, que se torna agora
um aliado natural com a sua deriva para o ultranacionalismo, políticas internas
reacionárias, e ódio ao Islã.
As razões pelas quais
Israel procura apoio são explicitadas por Mark Heller, principal analista
associado em Tel Aviv no Instituto de Estudos de Segurança Nacional. "No
longo prazo," explica, "haverá problemas em Israel nas suas relações
com a Europa ocidental e os EUA", enquanto que em contraste, os países
asiáticos importantes "não apresentam grande interesse na forma como Israel
se relaciona com os Palestinos, Árabes, ou quem quer que seja." De forma
breve, a China, Índia, Singapura e outros aliados favoritos são menos
influenciados pelos tipos de liberalismo e preocupações humanas que representam
uma ameaça crescente para Israel.
As tendências dos
países em desenvolvimento merecem alguma atenção. Como notado, os EUA estão a
tornar-se cada vez mais isolados nos últimos anos, quando sondagens dirigidas
pelos EUA - não noticiadas nos EUA, mais seguramente conhecidas em Washington -
revelaram que a opinião mundial olhava para os EUA como a maior ameaça mundial
à paz, ninguém sequer se aproximava. Sob Obama, os EUA estão agora sozinhos na
abstenção sobre os colonatos israelitas, contra a unanimidade do Conselho de
Segurança da ONU.
Com Trump e os seus
apoiadores de ambos os partidos no Congresso, os EUA ficarão ainda mais
isolados no mundo no apoio aos crimes israelitas. Desde 8 de novembro, os EUA
isolaram-se no assunto ainda mais importante de aquecimento global. Se Trump cumpre
a sua promessa de quebrar o acordo com o Irã, é provável que os outros
participantes persistam, deixando os EUA ainda mais isolados em relação à
Europa.
Os EUA estão igualmente
mais isolados do seu "quintal" da América do Sul do que no passado, e
estarão mais isolados se Trump recuar nos passos de normalização das relações
com Cuba lançado por Obama, passos tomados para evitar a provável exclusão de
todas as organizações do hemisfério por causa do seu assalto continuado a Cuba,
em total isolamento internacional.
O mesmo se passa na Ásia,
onde mesmo aliados próximos dos EUA (exceto o Japão), mesmo o reino Unido, se
juntam ao Banco de Desenvolvimento Asiático de Infra-estruturas, com sede na
China, e à Parceria Econômica Regional liderada pela China e, neste caso,
incluindo o Japão. A Organização de Cooperação de Shanghai (OCS) (chinesa
igualmente) incorpora os estados centro-asiáticos, a Sibéria com os seus
recursos, a Índia, o Paquistão e, mais tarde ou mais cedo, o Irã e mesmo a
Turquia. A OCS tem rejeitado os pedidos dos EUA para obter estatuto de
observador e exigiu que os EUA removam todas as suas bases militares da região.
Imediatamente após a
eleição de Trump, testemunhamos o espetáculo curioso da Chanceler Angela Merkel,
tomar a liderança numa lição a Washington sobre valores liberais e direitos
humanos. Entretanto, desde 8 de novembro, o mundo olha para a China para
liderança que pode salvar o mundo da catástrofe mundial, enquanto os EUA, em
esplêndido isolamento novamente, se prepara para minar estes esforços.
O isolamento do EUA não
está completo, obviamente. Como foi deixado claro na reação de Trump à vitória
eleitoral, os EUA apoiam entusiasticamente a extrema-direita na Europa,
incluindo elementos neo-fascistas. O retorno da extrema-direita em partes da
América do Sul oferece oportunidades de aliança também. E, claro, os EUA mantêm
uma aliança sólida com as ditaduras do Golfo e com Israel, que também se separa
dos setores mais liberais e democráticos na Europa e se aproxima de regimes
autoritários que não estão preocupados com as violações de Israel sobre lei
internacional ou ataques ferozes a elementares direitos humanos.
Os últimos
desenvolvimentos sugerem a emergência de uma Nova Ordem Mundial, totalmente
diferente dos retratos usuais dentro das doutrinas em vigor.
Noam Chomsky - Linguísta, filósofo e ativista político americano
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